E SERÁ PREGADO ESTE EVANGELHO DO REINO POR TODO MUNDO, PARA TESTEMUNHO A TODAS AS NAÇÕES. "ENTÃO VIRÁ O FIM" (Mt 24:14).
sexta-feira, 15 de março de 2013
Jônatas Goforth «por meu espírito» (1859-1936)
Jônatas Goforth
«por meu espírito»
(1859-1936)
Certo dia, no ano de 1900, em Changte, no interior da China, passou um correio galopando à doida. Levava um despacho da imperatriz para o governador, ordenando que tomasse medidas para exterminar imediatamente todos os estrangeiros. Na horrenda carnificina que se seguiu, Jônatas Goforth, com sua esposa e filhinhos, foram cercados por milhares de Boxers, determinados a tirar-lhes a vida.
O pai da família, ao cair no chão com uma tremenda pancada que quase lhe partiu o crânio, ouviu uma voz dizer-lhe: "Não temas! Teus irmãos estão orando por ti." Antes de ficar inconsciente, viu chegar a galope um cavalo que ameaçava atropelá-lo. Ao voltar a si, viu que o cavalo caíra ao seu lado, esperneando de tal maneira que os seus atacantes foram obrigados a desistirem do propósito de matar o missionário. Assim ele reconheceu que a mão de Deus o guardava maravilhosa e constantemente durante o tempo do morticínio dos boxers, no qual centenas de crentes foram mortos. Jônatas Goforth e sua família, foram sal-vos de inumeráveis situações angustiosas entre o povo amotinado, até que, por fim, vinte dias depois, chegaram ao litoral do país.
Rosalind e Jônatas Goforth tinham as suas vidas escondidas com Cristo em Deus. Eis como viviam, nas suas próprias palavras: "Não é somente tolice aceitar para nós mesmos a glória que pertence a Deus, mas é grave pecado, porque o Senhor diz: 'A minha glória a outrem não darei'."
Quando ainda jovem, Jônatas Goforth adotou as palavras de Zacarias 4.6 como lema da sua vida: "Não por força nem por violência, mas por meu espírito, diz o Senhor dos Exércitos."
Alguém que o conhecia intimamente escreveu: "Antes de tudo, Jônatas Goforth era um ganhador de almas. Foi por essa razão que se tornou missionário para o estrangeiro; não havia outro interesse, outra atividade, outro ministério que o atraísse. Com o fogo do amor de Deus no coração, ele manifestava um entusiasmo irresistível e uma energia incansável. Nada podia impedir os esforços dinâmicos na obra, para a qual Deus o chamara. Era assim tanto aos setenta e sete anos como quando tinha cinqüenta e sete. Com a perda da vista durante os últimos três anos da sua vida, não diminuíram seus esforços - parece que aumentaram."
Revela-se, nas suas próprias palavras, como foram lançados os alicerces da sua vida constantemente esforçada no serviço do Senhor: "Minha mãe, quando eu e meus irmãos éramos ainda crianças, com desvelo incessante, nos ensinava as Escrituras e orava conosco. Uma coisa que teve grande influência sobre a minha vida foi o fato de minha mãe me pedir que lesse os Salmos para ela em voz alta. Tinha apenas cinco anos, quando comecei a fazer esse exercício e achei a leitura fácil. Com a continuação, adquiri o costume de decorar as Escrituras, coisa que continuei a fazer com grande proveito".
Todos podemos testificar que é fácil fazer com que a leitura das Escrituras e a oração cheguem a uma monótona formalidade. Mas, ao contrário, o semblante de Jônatas Goforth se iluminava com o reflexo da glória das Escrituras que recebia na alma. Depois da sua morte, uma criada católica romana declarou: "Quando o senhor Goforth se hospedava na casa onde trabalho, eu mirava seu rosto e dizia a mim mesma: O rosto de Deus pode ser assim!"
Acerca da conversão de seu pai, Jônatas escreveu: "No tempo da minha conversão, morava com meu irmão Guilherme. Certa vez, nossos pais nos visitaram, passando conosco mais ou menos um mês. Fazia tempo que o Senhor me dirigira a fazer culto doméstico. Assim, certo dia, anunciei: Taremos o culto doméstico de hoje e peço que todos se reúnam depois do jantar'. Esperava que meu pai se manifestasse contrariamente, porque em casa não costumávamos dar graças antes das refeições, quanto mais fazer culto doméstico! Li um capítulo de Isaías e, depois de falar algumas palavras, oramos juntos, de joelhos. Continuamos a realizar os cultos domésticos durante o tempo que eu estava em casa. Depois de alguns meses meu pai foi salvo."
O jovem Goforth, no tempo de estudante no ginásio, visava a ser advogado, até que, certo dia, leu a inspiradora biografia do pregador Roberto McCheyne. Não somente se desvaneceram para sempre todas as suas visões de ambição, mas ele dedicou, também, a sua própria vida a levar almas ao Salvador. Nesse tempo, "devorou" os livros: "Os Discursos de Spurgeon"; "Os Melhores Sermões de Spurgeon"; "Graça Abundante" (Bunyan); e "O Descanso dos Santos" (Baxter). A Bíblia, contudo, era o seu livro predileto, e costumava levantar-se duas horas mais cedo para estudar as Escrituras, antes de se ocupar em qualquer outro serviço do dia.
Acerca da sua chamada, nesse tempo, ele escreveu: "Apesar de sentir-me dirigido ao ministério da Palavra, recusava terminantemente a ser missionário no estrangeiro. Mas um colega me convidou a assistir à reunião de um missionário, o qual fez o seguinte apelo: 'Faz dois anos que passo de cidade em cidade contando a situação de Formosa e rogando que algum jovem se ofereça para me auxiliar. Mas parece que não consegui transmitir a são a nenhum. Volto, então, sozinho. Dentro de pouco tempo meus ossos estarão enbranquecendo na encosta dum morro em Formosa. Quebranta-me o coração saber que nenhum moço se sente dirigido a continuar o trabalho que iniciei'.
"Ao ouvir essas palavras, senti-me vencido pela vergonha. Se o chão tivesse me engolido, teria sido um alívio. Eu, comprado com o precioso sangue de Cristo, ousava planejar a minha vida como eu mesmo queria. Ouvi a voz do Senhor dizer: 'A quem enviarei, e quem há de ir por nós?' E respondi: Eis-me aqui, envia-me a mim! Desde então sou missionário. Lia avidamente tudo que podia achar acerca de missões no estrangeiro e me esforçava por transmitir aos outros a visão que eu alcançara - a visão dos milhões da terra sem oportunidade de ouvirem um pregador".
Por fim chegou o tempo de iniciar seus estudos em Toronto. O primeiro domingo ele o passou trabalhando entre os prisioneiros, na prisão "Don", um costume que continuou durante todos os anos de estudos nessa cidade. Durante a semana, dedicava muito tempo a andar de casa em casa ganhando almas para Cristo. Quando o diretor do colégio onde estudava perguntou-lhe quantas casas visitara durante os meses de junho a agosto, ele respondeu: "Novecentas e sessenta."
Foi nesse tempo dos estudos que Jônatas Goforth se casou com Rosalind Bell-Smith. Acerca desse ato ela escreveu:
"Comecei, aos vinte anos de idade, a orar pedindo que, se o Senhor desejasse que eu me casasse, Ele me dirigisse um moço inteiramente dedicado a Ele e ao seu serviço... Certo domingo, achei-me em uma reunião de obreiros da Toronto Mission Union. Um pouco antes de começar a reunião, alguém à porta chamou Jônatas Goforth. Ele, ao levantar-se para ir lá fora, deixou a Bíblia na cadeira. Então eu fiz uma coisa que nunca pude explicar, nem para ela achei desculpas; senti-me impelida a ir à cadeira dele, apanhei a Bíblia, e voltei à minha cadeira. Ao folhear rapidamente o livro, achei-o quase gasto pelo uso, e marcado de capa a capa. Fechei-o, e sem demora, coloquei-o de novo na cadeira. Tudo isso aconteceu em um intervalo de poucos segundos. Ali, sentada no culto, eu disse a mim mesma: 'Esse é o moço com quem seria bom que eu me casasse'.
"No mesmo dia fui apontada, juntamente com outras para abrir um ponto de pregação em outra parte de Toronto. Jônatas Goforth estava também entre o grupo. Durante as semanas que se seguiram, eu tive muitas oportunidades de ver a verdadeira grandeza da alma desse homem, a qual nem seu exterior desprezível podia esconder. Assim, quando ele me perguntou: - 'Queres unir a tua vida à minha para irmos à China?' Sem vacilar um só momento, respondi: - Quero! Mas, alguns dias depois, foi grande a minha surpresa quando ele me perguntou: - 'Prometes nunca me impedir de colocar o Senhor e a sua obra em primeiro lugar, mesmo antes de ti?' Era essa mesma a qualidade de moço que eu pedira, em oração, para que Deus mo desse como marido, e firmemente respondi: Prometo fazê-lo sempre! Oh! Como fora benigno o Mestre, ao esconder-me o que essa promessa significava!
"Poucos dias depois de eu haver prometido o que me pediu, veio a primeira prova. Eu sonhava, como mulher que era, com o bonito anel de casamento que ia receber. Foi então que Jônatas me disse: - 'Não te importas se eu te não comprar uma aliança?' A seguir explicou com grande entusiasmo, como se esforçava na distribuição de livros e folhetos sobre o trabalho na China. Queria economizar o mais possível para essa importante obra. Ao ouvi-lo, e depois de contemplar a luz no seu rosto, as visões de uma aliança bonita se desvaneceram: Era a minha primeira lição sobre os verdadeiros valores!"
Em 19 de janeiro de 1888, centenas de crentes se reuniram na estação em Toronto para se despedirem do casal Goforth que ia trabalhar na obra de Deus na China. Antes de sair o trem, todos baixaram a cabeça em oração e, ao partir o trem, a grande multidão cantava: "Avante, soldados de Cristo!" E, uma vez fora da estação, os dois no trem rogaram a Deus que os guardasse para viverem eternamente dignos da grande confiança que esses irmãos depositaram neles.
Não muito depois de chegarem à China, Hudson Taylor lhes escreveu: "Faz dez anos que a nossa missão se esforça para entrar no Sul da província e somente agora é que o conseguimos..." Se a China Inland Mission, com missionários e auxiliares experientes na língua e nos costumes do povo sofre fracasso durante dez anos nessa província, como podia entrar ele, jovem inexperiente e sem conhecer a língua?! As palavras de Hudson Taylor, "avançar de joelhos", tornaram-se o lema da missão de Goforth para entrar no Norte de Honã.
Jônatas Goforth levou mais tempo a aprender a língua, do que seu companheiro que chegara um ano depois dele. Certo dia, ao sair para pregar, ele, em grande desespero, disse à sua esposa: "Se o Senhor não operar um milagre para eu aprender essa língua, serei um grande fracasso como missionário!" Duas horas depois voltou, dizendo: "Oh! Rosa! Que maravilha! Ao começar a pregar, as palavras e as frases tornaram-se tão fáceis que o povo me compreendeu bem." Dois meses depois receberam uma carta dos estudantes no colégio Knox, em Toronto, contando como em certo dia a certa hora eles se reuniram para orar por eles - "Somente pelos Goforth" - e ficaram convencidos de que eles foram abençoados por Deus, porque sentiram muito a presença e o poder de Deus na oração. Goforth, ao abrir seu diário, descobriu que foi no mesmo dia e hora que Deus lhe deu a habilidade de falar fluentemente. Alguns anos depois, certo patrício seu, que falava bem o chinês, disse-lhe acerca do seu estilo de falar: "Compreende-se a fala do senhor sobre uma área maior do que de qualquer outra pessoa que conheço."
Um missionário veterano assim aconselhou a Goforth: "Os chineses têm tantos preconceitos do nome de Jesus que deve esforçar-se para demolir os deuses falsos e só depois mencionar o nome de Jesus, se houver oportunidade." Ao contar isso à sua esposa, Goforth exclamou indignado: "Nunca! Nunca! NUNCA!" Em nenhum tempo ele se levantou para pregar sem a Bíblia aberta na mão.
Quando, alguns anos depois, os missionários novatos lhe perguntaram o segredo do fruto extraordinário do seu ministério, ele respondeu: "Deixo Deus falar às almas dos ouvintes por intermédio da sua própria Palavra. Meu único segredo para tocar no coração dos mais vis pecadores é mostrar-lhes a sua necessidade e pregar-lhes o Salvador poderoso para os salvar... Esse era o segredo de Lutero, era o segredo de João Wesley e ninguém se aproveitou mais dele do que D. L. Moody". Para manejar a ''Espada do Espírito" com grande execução, Goforth a "afiava", estudando-a diariamente, sem falhar. Em vez de falar contra os ídolos, ele exaltava a Cristo crucificado. Isso atraía os pecadores para deixarem as suas vaidades.
Em 1896, ele escreveu: "Depois de chegar a Changté, há cinco meses, o poder do Espírito Santo se manifesta quase diariamente para nos alegrar. Durante esses meses, um total de mais de 25.000 homens e mulheres nos visitaram em casa, e todos ouviram a pregação do Evangelho. Pregamos, na média, oito horas por dia. Há, às vezes, mais de cinqüenta mulheres de uma vez no terraço. (Ele pregava aos homens, enquanto a sua esposa pregava às mulheres.) Quase todas as vezes que apresentamos Cristo como Redentor e Salvador, o Espírito Santo salva alguém e, às vezes, dez a vinte."
Contudo, não se deve pensar que esses missionários escaparam de grandes tribulações. Não muito depois de chegarem à China, um incêndio destruiu todas as suas possessões terrestres. O calor do verão era tão intenso que sua primogênita, Gertrude, faleceu e foi necessário levar o cadáver a uma distância de 75 quilômetros, a um lugar onde se permitia enterrar os estrangeiros. Quando faleceu outro filhinho, Donald, foi necessário fazer de novo a mesma longa viagem de 75 quilômetros com os restos mortais. Depois de passarem doze anos na China, novamente perderam tudo quanto tinham em casa, quando as águas de uma enchente subiram à altura de dois metros dentro da casa.
No ano 1900, logo após outra filha, Florença, morrer de meningite, veio a insurreição dos Boxers - acerca da qual já nos referimos. No levante dos Boxers, muitas centenas de missionários e crentes foram brutalmente mortos. Só a mão de Deus os guiou e os sustentou na fuga de Changté -uma viagem de 1.500 quilômetros, em tempo de intenso calor e de doença em um dos quatro filhos. Inúmeras vezes foram cercados pelas multidões que clamavam: "Matai-os! Matai-os!" Uma vez a multidão enfurecida arremessou pedras tão grandes que quebraram a espinha dos cavalos que puxavam a carroça, mas todas as pessoas do grupo escaparam! Goforth levou vários golpes de espada, um dos quais atingiu o osso do braço esquerdo, quando o ergueu para defender a cabeça. Apesar de o grosso capacete, que tinha na cabeça, ficar quase inteiramente cortado em pedaços, ele conseguiu manter-se em pé até que recebeu um golpe que, por pouco, não lhe partiu o crânio. Mas Deus não permitiu que a mão dos homens os destruíssem, porque ainda tinha uma grande obra para fazer na China por intermédio desses servos. Assim, sem poderem cuidar das feridas e com as roupas ensangüentadas, o grupo enfrentava as multidões furiosas, dia após dia, até alcançar Shanghai. De lá, a família embarcou em um navio para o Canadá.
Logo que diminuiu o perigo na China, os nossos incansáveis heróis estavam novamente ocupados no trabalho em Changté. A região foi dividida em três: a parte que caiu em sorte a Goforth foi o vasto território ao norte da cidade com inúmeras vilas e povoados.
O plano de Goforth era alugar uma casa em um centro importante, passar um mês evangelizando e, depois mudar-se para outro centro. Queria que a sua esposa pregasse no pátio da casa, de dia, enquanto ele e seus auxiliares pregavam nas ruas e nos povoados ao redor. À noite, faziam os cultos juntos, ela tocando o harmonium. No fim do mês, podiam deixar um dos auxiliares para ensinar os novos convertidos, enquanto o grupo passava para outro centro. Acerca desse plano a esposa de Goforth escreveu:
"De fato, o plano foi bem concebido, a não ser uma coisa: não se lembrou das crianças... Lembrei-me de como os meninos com varíola, em Hopei, me cercaram quando segurava a criança no colo. Lembrei-me das quatro covas de nossos pequeninos, e endureci o coração, como pederneira, contra o plano. Como meu marido suplicava dia após dia! 'Rosa, por certo o plano é de Deus e receio o que possa acontecer aos filhos se desobedecermos. O lugar mais seguro para ti e os filhos é no caminho da obediência. Pensas em guardar os filhos seguros em casa, mas Deus pode mostrar-te que não podes. Contudo, Ele guardará os filhos se obedeceres confiando nele!' Não muito depois, Wallace caiu doente de disenteria asiática e por quinze dias lutamos para salvar a criança; meu marido me disse: 'Oh! Rosa, cede a Deus, antes de perder tudo.' Mas parecia-me que Jônatas era duro e cruel. Então nossa filha Constância caiu enferma da mesma doença. Deus revelou-se a mim como um Pai em quem eu podia confiar para conservar os meus filhos. Baixei a cabeça e disse: 'Ó Deus, é tarde demais para a Constância, mas confio em ti, guarda os meus filhos. Irei aonde quer que me mandes.' Na tarde do dia em que a criança faleceu, mandei chamar a senhora Wang, uma crente fervorosa e amada e lhe disse: 'Não posso contar-lhe tudo agora, mas estou resolvida a acompanhar meu marido nas viagens de evangelização. Quer ir comigo?' Com lágrimas nos olhos, ela respondeu: 'Não posso, pois a menina pode adoecer sob tais condições.' Não querendo insistir, pedi que ela orasse e me respondesse depois. No dia seguinte ela voltou com os olhos cheios de lágrimas e, com um sorriso, disse: 'Irei com vocês'."
É coisa notável que não faleceu mais nenhum filho dos Goforth, na China, apesar dos muitos anos que passaram na vida nômade de evangelização. Goforth observou tão fielmente seu costume de levantar-se às 5 horas para oração e estudo das Escrituras, como quando estava em casa, em Chantgé. Geralmente, para o estudo tinha de ficar em pé diante da janela, com as costas viradas para a família. Acerca da obra em Chantgé, são de Goforth estas palavras: "Nos primeiros anos de meu trabalho na China, contentava-me com a lembrança de que sempre há sementeira antes da colheita. Mas já passavam mais de treze anos e a colheita parecia ainda distante. Tinha a certeza de que haveria uma coisa melhor para mim se eu tivesse a visão e a fé necessárias para adquiri-la. Estavam constantemente perante mim as palavras do Mestre em João 14.12: 'Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas; porque eu vou para meu Pai.' E sentia profundamente como no meu ministério faltavam as 'maiores obras'."
No ano de 1905, Jônatas Goforth leu na Autobiografia de Carlos Finney que um lavrador podia, com muita razão, orar pedindo uma colheita material independentemente de se cumprirem as leis da natureza, assim como os crentes podem esperar uma grande colheita de almas sem se cumprirem as leis que governam a colheita espiritual. Resolveu então saber quais eram essas leis e decidiu-se a cumpri-las, a qualquer preço.
Fez um estudo a fundo e de joelhos, sobre o Espírito Santo e escreveu as notas nas margens da sua Bíblia chinesa. Quando começou a ensinar essas lições aos crentes, houve grande quebrantamento, com confissão de pecados. Foi na grande exposição idólatra de Hsun Hsien que Deus primeiramente mostrou seu grande poder no ministério de Goforth. Durante o sermão, um obreiro exclamou em voz baixa: "Esse povo está tão comovido, pela pregação, como a multidão no dia de Pentecoste, pelo sermão de Pedro". Na noite do mesmo dia, num salão alugado e que não comportava toda a grande multidão pagã que queria assistir, Goforth pregou sobre o texto: "Levando Ele em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro". Quase todos mostraram-se convictos do pecado e quando o pregador fez o apelo, levantaram-se clamando: "Queremos seguir a esse Jesus que morreu por nós!" Um dos obreiros presentes assim expressou o que viu: "Irmão, aquele a quem oramos durante tanto tempo para que viesse, veio de fato esta noite." Nos dias que se seguiram, pecadores foram salvos em todos os pontos de pregação e em todos os cultos.
Acerca do avivamento, que nesse tempo visitou a Coréia, um dos missionários escreveu sobre o que presenciou: "Os missionários eram como os demais crentes: não havia alguém entre eles de talento extraordinário. Viviam e trabalhavam como quaisquer outros, a não ser nas orações... Nunca senti a presença divina como a senti nos seus rogos a Deus. Parecia que esses missionários nos levavam ao próprio trono no Céu! Fiquei muito impressionada, também, ao ver como o avivamento era prático... Havia dezenas de milhares de homens e mulheres transformados completamente pelo fogo divino. Grandes templos, com assentos para 1.500 pessoas, ficavam superlotados; era necessário realizar um culto para os homens e, em seguida, outro para as mulheres, a fim de que todos pudessem assistir. Em todos ardia o desejo de espalhar as 'boas-novas'. Crianças se aproximavam das pessoas que passavam pelas ruas, rogando-lhes que aceitassem a Cristo por seu Salvador... A pobreza do povo da Coréia era conhecida em todo o mundo. Contudo, havia tanta liberalidade nas ofertas, que os missionários não queriam ensinar mais sobre o dever de contribuir. Havia grande dedicação à Bíblia, quase todos levando um exemplar no bolso. E o maravilhoso espírito de oração permeava tudo."
Ao voltar da Coréia, Goforth foi chamado a Manchúria. Mais tarde, ele escreveu: "Quando iniciei a longa viagem, estava convicto de que eu tinha uma mensagem de Deus para entregar àquele povo. Mas não tinha idéia de como presidir a um avivamento. Sabia pronunciar um discurso e sabia levar o povo a orar, porém nada mais sabia do que isso..."
Goforth teve um grande desapontamento ao chegar à Manchúria: os crentes não oravam como lhe prometeram fazer e a igreja estava dividida! Depois do primeiro culto, ele, sozinho no seu quarto, caiu de joelhos em desespero. E Deus respondeu à sua insistência, enviando tão grande desejo de oração nas igrejas e tão profunda contrição pelo pecado, que elas não somente foram purificadas de toda a classe de pecado, inclusive dos mais horrendos crimes, mas os perdidos, em grande número, vinham e eram salvos.
A senha do avivamento do ano de 1859 foi: "Necessário vos é nascer de novo" e a de 1870: "Crê no Senhor Jesus!" Mas a meta de Goforth foi: "Não por força, nem por violência, mas por meu Espírito" (Zc 4.6). Que o Espírito Santo operava em vários lugares na Manchúria, em resposta às orações insistentes e em face de embaraços de toda a sorte, vê-se claramente no que ele escreveu acerca da obra na cidade de Newchang:
"Ao subir ao púlpito, ajoelhei-me um momento, como de costume, para orar. Quando olhei para o auditório, parecia como que todos os homens, mulheres e crianças na igreja estivessem com dores de julgamento. As lágrimas corriam copiosamente e houve confissão de toda a espécie de pecado. Como se explica isso? A igreja era conhecida como igreja morta e sem mais esperança, contudo, antes de enunciar sequer uma palavra, sem mesmo cantar um hino e antes de orar, começou essa obra maravilhosa. Não há outra explicação: foi o Espírito de Deus, que operou em resposta às orações das igrejas de Mukden, Liaoyang e de outros lugares na Manchúria, as quais haviam experimentado a mesma qualidade de avivamento e foram induzidas a interceder por sua pobre e necessitada igreja irmã".
Jônatas Goforth, quando foi à Manchúria, era quase desconhecido fora do pequeno círculo da sua denominação. Depois de algumas semanas, quando voltou, os olhos dos crentes de todo o mundo estavam fitos nele. Contudo, permaneceu o mesmo humilde servo de Deus, reconhecendo que a obra não era dele mas do Espírito de Deus.
Chansi é conhecida como "a província dos mártires". Certo chinês douto contou a Goforth como presenciara nessa província, durante a Insurreição dos Boxers, em 1900, de uma só vez a morte de 59 missionários. Todos eles encararam o carrasco com a maior calma. Uma mocinha, de cabelos louros, perguntou ao governador: "Por que devemos morrer? Os nossos médicos não vieram de países remotos para dar suas vidas para servir ao seu povo? Muitos doentes sem esperança não foram curados? Diversos cegos não receberam a vista? É por causa do bem que fizemos que devemos morrer?" O governador baixou a cabeça, e não respondeu. Mas um soldado, pegou a mocinha pelos cabelos, e com um só golpe, decepou-lhe a cabeça. Um após outro foram mortos; todos morreram com um sorriso de paz. Esse mesmo chinês contou como viu, entre eles, uma senhora falando alegremente ao filhinho. Com um só golpe ela foi prostrada, mas a criança continuou a segurar-lhe a mão; logo a seguir outro golpe, um pequeno cadáver jazia ao lado do cadáver da mãe.
Foi a essa mesma "província dos mártires" que Deus enviou seus servos, os Goforth, oito anos depois, e aconteceu o que vamos ler: "Em Chuwahsien, não muito depois de começar a falar, vi muitos dos ouvintes baixarem a cabeça, convictos, enquanto as lágrimas corriam-lhes pelas faces. Depois do discurso, todos que experimentaram orar, estavam quebrantados. O avivamento, que começou assim, continuou durante quatro dias. Houve confissão de toda a qualidade de pecados. O delegado regional se admirou grandemente ao ouvir confissões de homicídios, de roubos e de crimes de toda a sorte - confissões que ele só conseguiria arrancar deles açoitando-os até quase os deixar mortos. Às vezes, depois de um culto de três horas, ou mais, o povo voltava a casa para continuar a orar. Mesmo em horas tardias da noite, havia pequenos grupos reunidos em vários lugares para orarem até quase clarear o dia".
No colégio de moças, em Chuwu, na mesma "província dos mártires", "as alunas insistiram para que lhes concedessem tempo para jejuar e orar... No dia seguinte, quando as moças se reuniram de manhã, para oração, o Espírito caiu sobre elas e ficaram de joelhos até a tarde desse dia."
Das centenas de exemplos evidentes da operação poderosa do Espírito Santo nos corações, dentre muitos outros lugares, citaremos aqui apenas os seguintes:
Changté: "Quase setecentas pessoas assistiram pela manhã. Havia um ferver de homens se esforçando para ir à frente, de modo que Goforth só conseguiu pregar à tarde. O culto era contínuo, prolongava-se o dia inteiro, com intervalos para as refeições."
Kwangchow: "A igreja, com assentos para 1.400 ouvintes, não comportava as multidões. O Espírito Santo veio com poder extraordinário. Havia, às vezes, centenas de pecadores contritos chorando..." Dois endemoninhados foram libertos e se tornaram crentes fervorosos na obra de Deus. Em quatro anos o número dos salvos aumentou de 2.000 para 8.000.
Shuntehfu: "Inesperadamente, uma dúzia de homens começaram a orar e a chorar... sem poderem resistir ao poder do Espírito Santo... Velhos discípulos de Confúcio, vinham à frente, quebrantados e humilhados, para confessarem a Cristo como seu Senhor. Um total de quinhentos homens e mulheres foram salvos. Foi, talvez, a maior obra do Espírito Santo que eu tinha visto."
Nanquim: "Assistiram mais de 1.500 pessoas. Centenas que também queriam assistir, não puderam entrar e voltaram a casa. O culto da manhã durou quatro horas. O resto do tempo foi dedicado à oração e confissão de pecados. A massa de pessoas que desejava chegar ao estrado para confessar seus pecados foi tão grande que se tornou necessário construir outra escada... Subi de novo ao estrado, às 3 horas da tarde, para iniciar o segundo culto. Centenas de pessoas, nesse momento, começaram a vir à frente e por isso eu não podia pregar... Às nove horas da noite, seis horas depois de iniciar o culto, fui obrigado a me retirar e embarcar para Pequim onde os crentes me esperavam para outra série de cultos."
Shantung: "O avivamento foi tão grande que cerca de 3.000 membros foram acrescentados à igreja em três anos."
Acerca dos cultos entre os soldados do general Feng, a esposa de Goforth escreveu: ''Desde o início, sentimos a presença de Deus. Duas vezes, todos os dias, Goforth tinha auditórios de cerca de 2.000 pessoas, principalmente oficiais, que se mostravam grandemente interessados... A três cultos, às esposas foi permitido assistirem, e Deus me deu poder para falar-lhes. Quase todas declararam-se prontas a seguir a Cristo. O general Feng, ao experimentar orar, ficou quebrantado... A seguir outros oficiais, um após outro, começaram a clamar a Deus entre soluços e lágrimas."
Assim continuou a obra, ano após ano, geralmente com três cultos por dia, apesar de grandes obstáculos. No período da seca de 1920, 30 a 40 milhões dos habitantes ao redor encararam a morte pela fome. Em 1924, Goforth assim escreveu à sua esposa, forçada por doença a voltar ao Canadá: "Completo hoje 65 anos... Oh! Como cobiço, mais que qualquer avarento cobiça o ouro, vinte anos ainda para ganhar almas!"
Depois de completar 68 anos de idade e sua esposa 62, idades em que a maioria dos homens se afastam do serviço ativo, os dois foram enviados para um campo inteiramente novo, na Manchúria - campo distante, vasto e frio, que se estende até as fronteiras da Rússia e da Mongólia. Acerca da sua partida, Goforth escreveu:
"Certo dia, em fevereiro de 1926, a minha esposa estava deitada esperando a chegada da assistência para levá-la ao Hospital Geral de Toronto. De repente, a campainha da porta e a do telefone tocaram simultaneamente. Pelo telefone fomos avisados de que não haveria lugar no hospital antes de três dias. Na porta recebemos um cabograma do general Feng, da China, rogando que eu fosse sem demora. Nesse momento eu disse à minha esposa: 'Que farei? Não posso deixar-te'. (Todos pensávamos que ela não viveria muitos meses mais.) Minha esposa, depois de orar, disse: 'Vou contigo.' Os membros da junta estavam reunidos na ocasião; apresentei-lhes o cabograma do general Feng e concordaram que eu fosse. Mas quando os informaram de que a minha esposa queria acompanhar-me, mostraram-se horrorizados, respondendo que ela morreria no caminho. Então eu lhes disse: 'Os irmãos não conhecem essa mulher como eu. Quando ela diz que vai, ela vai!' Assim concordaram em que ela fosse."
Durante muito tempo, avisados pelo cônsul do novo campo da Manchúria, viviam com as malas arrumadas, a fim de partirem imediatamente no caso de haver uma segunda insurreição dos Boxers, como todos esperavam. Contudo, desde o início, Deus honrou o serviço desses servos, conforme se lê no que ele escreveu na avançada idade de 70 anos: "Realizavam-se três horas de pregação de manhã pelo grupo de missionários e quatro horas à tarde... Desde o primeiro dia houve conversões; às vezes doze em um só dia. Grande foi o nosso gozo ao vermos cerca de duzentas pessoas aceitaram a Cristo durante o mês de maio."
Havia muito tempo que diversos amigos insistiam em que ele escrevesse a história de como o Espírito Santo operava no seu ministério. Em tempo de intenso frio, viu-se obrigado a extrair os dentes; durante quatro longos meses sofreu dores cruciantes nos maxilares, a ponto de não poder pregar. Foi nessa época que seu filho menor chegou do Canadá. Goforth então conseguiu ditar a matéria para o filho datilografar. Dessa forma foi impresso o livro "Por Meu Espírito", obra de grande circulação e influência.
Após quatro anos de serviço, foi-lhe necessário voltar ao Canadá, por causa da vista de sua esposa. Foi durante esse tempo que Goforth, também, começou a perder a vista. Enquanto convalescia das operações mal-sucedidas para restaurar-lhe a visão de um olho. Ele relatou, uma por uma, as histórias da obra na China, histórias que a sua enfermeira estenografou e que, agora, completam o famoso livro intitulado: "Vidas Milagrosas da China".
Em 1931, Goforth e sua esposa, ela com 67 anos e ele com 72, com os corações ardendo pelo desejo de ganhar almas, voltaram mais uma vez à obra na Manchúria. Quatrocentos e setenta e dois convertidos foram batizados em 1932. Um dia Goforth voltou de uma viagem evangelística para entrar em casa às apalpadelas. Depois de ficar um momento ao lado da sua esposa, ele lhe disse em voz baixa: "Receio que a retina do olho esquerdo tenha saído do lugar." E assim tinha acontecido. A perda completa da visão era para ele uma tristeza, uma tragédia, sentida por todos. Ao mesmo tempo chegou-lhes uma carta informando-os de uma redução tão grande no que recebiam para o sustento dos missionários e nas despesas das viagens evangelísticas, que parecia impossível continuar a obra. Foi a maior crise de toda a vida de Jônatas Goforth. Contudo, sem vacilar, olhou para Deus. A própria cegueira parecia mais uma bênção do que uma aflição: os crentes mostravam-se mais ligados a ele do que antes. Vencendo o desânimo inevitável dos que perdem a vista, não cessou de pregar com a Bíblia que amava, aberta nas mãos. No ano de 1933, setecentos e setenta e oito convertidos foram batizados.
Por fim, os Goforth cederam ao apelo dos crentes do Canadá a que voltassem para animar as igrejas a enviarem mais missionários. Durante os preparativos para a viagem, souberam que novecentos e sessenta e seis convertidos foram batizados naquele ano, 1934. O culto de despedida foi um dos mais comoventes em toda a história da obra missionária. O missionário, tão amado pelos crentes, agora, por causa da cegueira, não podia ver como tinham enfeitado o templo, mas eles bondosamente e com prazer lhe descreveram tudo acerca das muitas e lindas bandeiras de seda e veludo que cobriam inteiramente as quatro paredes do templo. Os pregadores que falaram, o fizeram chorando. Um deles disse: "Agora Elias está para sair de nosso meio e cada um de nós deve tornar-se um Eliseu".
Na hora da despedida, na plataforma da estação estava uma multidão de crentes chorando. Goforth, sentado diante da janela no trem, com o rosto virado para aqueles crentes que tanto amava, mas não podia ver, continuava a fazer-lhes sinais com a cabeça, de vez em quando, levantando os olhos para cima, indicando, assim, a bendita esperança de uma reunião no Céu. Quando o trem partiu, os crentes com os olhos cheios de lágrimas, tentaram acompanhá-lo, correndo paralelamente, a fim de conseguirem olhar mais uma vez para o rosto desses queridos missionários.
Durante dezoito meses, Goforth pregou a grandes auditórios no Canadá e nos Estados Unidos. Dia após dia, esse veterano estava em pé diante desses auditórios, com a sua amada Bíblia aberta nas mãos. Abria o livro, aproximadamente nas páginas, das quais citava as passagens de cor, durante o sermão. Isso ele fazia, tendo os olhos abertos e com tanta prática, que era difícil crer que as não lia como outrora.
O ponto principal de suas mensagens descobre-se nestas palavras que ele disse certo dia à sua esposa: "Querida, acabo de fazer um cálculo mental que prova com certeza qual o resultado de dar ao Evangelho a oportunidade de operar. Se cada um dos missionários enviados à China tivesse levado tantas almas a Jesus como os seis missionários do nosso campo durante o ano de 1934, o último ano que passamos na Manchúria, isto é, 166 por cada missionário, o número de conversões na China teria alcançado a cifra de quase um milhão de almas, em vez de apenas 38.724, isto é, teria sido vinte e cinco vezes maior!"
Certo dia, quando tinha de pregar somente à noite, ele disse á sua esposa: "Em vez de sairmos de casa hoje, acho melhor participarmos de um banquete da Palavra. Lê para mim o precioso Evangelho de João". Ela leu dezesseis capítulos desse livro. "Percebia-se que era um verdadeiro banquete para ele, pela atenção que prestava à leitura de certas passagens." Antes de falecer, tinha lido a Bíblia, de capa a capa, mais de setenta e três vezes.
Na noite do dia 7 de outubro de 1936, Jônatas Goforth, depois de um discurso fervoroso e longo, sobre o tema: "Como o Fogo do Espírito Varreu a Coréia", deitou-se tarde para dormir. Às sete horas da manhã seguinte, a sua esposa levantou-se e vestiu-se. Logo a seguir verificou que foi mais ou menos no momento em que ela se levantou que ele, "dormindo aqui na terra, num instante, acordou-se na Glória, vendo de novo." Poucos dias antes, ele tinha dito que se regozijava em saber que o primeiro rosto que ia ver, seria o de seu Salvador.
Cinco anos e meio depois de Jônatas Goforth haver dormido no Senhor, Rosalind Goforth reuniu-se ao seu amado marido e companheiro de lutas. As últimas palavras que pronunciou, foram estas: "O Rei me chama. Estou pronta".
Dela também pode-se dizer, como foi dito a respeito dele: "Entregava-se à oração e ao estudo da Palavra, para saber a vontade de Deus. Foi esse amor pela leitura da Bíblia e a ininterrupta comunhão com Deus que lhe deram o poder de comover auditórios e convencê-los do pecado e da necessidade do arrependimento. Em todas as ocasiões ele dominava a sua própria pessoa e confiava inteiramente no poder do Espírito Santo para descobrir as coisas de Jesus aos ouvintes."
Que o mesmo brado de guerra seja sempre nosso: "Não por força, nem por violência, mas por meu Espírito" - "Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo".
(extraido do livro hérois da fé)
Dwight Lyman Moody Célebre ganhador de almas (1837-1899)
Dwight Lyman Moody
Célebre ganhador de almas
(1837-1899)
Tudo aconteceu durante uma das famosas campanhas de Moody e Sankey para salvar almas. A noite de uma segunda-feira tinha sido reservada para um discurso dirigido aos materialistas. Carlos Bradlaugh, campeão do ceticismo, então no zênite da fama, ordenou que todos os membros dos clubes que fundara assistissem à reunião. Assim, cerca de 5000 homens, resolvidos a dominar o culto, entraram e ocuparam todos os bancos.
Moody pregou sobre o texto: " A rocha deles não é como a nossa Rocha, sendo os nossos próprios inimigos os juizes" (Deuteronômio 32.31).
"Com uma rajada de incidentes pertinentes e comoventes das suas experiências com pessoas presas ao leito de morte, Moody deixou que os homens julgassem por si mesmos quem tinha melhor alicerce sobre o qual deviam basear sua fé e esperança. Sem querer, muitos dos assistentes tinham lágrimas nos olhos. A grande massa de homens, demonstrando o mais negro e determinado desafio a Deus estampado nos seus rostos, encarou o contínuo ataque de Moody aos pontos mais vulneráveis, isto é, o coração e o lar.
"Ao findar, Moody disse: 'Levantemo-nos para cantar: Oh! vinde vós aflitos! e, enquanto o fazemos, os porteiros abram todas as portas para que possam sair todos os que quiserem. Depois faremos o culto, como de costume, para aqueles que desejarem aceitar o Salvador.' Uma das pessoas que assistiu a esse culto, disse: 'Eu esperava que todos saíssem imediatamente, deixando o prédio vazio. Mas a grande massa de cinco mil homens se levantou, cantou e assentou-se de novo; nenhum deles deixou seu assento!'
"Moody, então disse: 'Quero explicar quatro palavras: Recebei, crede, confiai, aceitai.' Um grande sorriso passou de um a outro em todo aquele mar de rostos. Depois de falar um pouco sobre a palavra recebei, fez um apelo: 'Quem quer recebê-lo? É somente dizer: Quero.' Cerca de cinqüenta dos que estavam em pé e encostados às paredes, responderam: 'Quero', mas nenhum dos que estavam sentados. Um homem exclamou: 'Eu não posso', ao que Moody replicou: 'Falou bem e com razão, amigo; foi bom ter falado. Escute e depois poderá dizer: Eu posso'. Moody então explicou o sentido da palavra crer e fez o segundo apelo: 'Quem dirá: Quero crer nele?' De novo alguns dos homens que estavam em pé responderam, aceitando, mas um dos chefes dirigente dum clube, bradou: 'Eu não quero!' Moody, vencido pela ternura e compaixão, respondeu com voz quebrantada: 'Todos os homens que estão aqui esta noite têm de dizer: Eu quero ou Eu não quero'.
"Então, levou todos a considerarem a história do Filho Pródigo, dizendo: 'A batalha é sobre o querer - só sobre o querer. Quando o Filho Pródigo disse: Levantar-me-ei a luta foi ganha, porque alcançara o domínio sobre a sua própria vontade. É com referência a este ponto que depende tudo hoje. Senhores, tendes aí em vosso meio o vosso campeão, o amigo que disse: Eu não quero . Desejo que todos aqui, que acreditam que esse campeão tem razão levantem-se e sigam o seu exemplo, dizendo: Eu não quero.' Todos ficaram quietos e houve grande silêncio até que, por fim, Moody interrompeu, dizendo: 'Graças a Deus! Ninguém diz: Eu não quero. Agora quem dirá: Eu quero? Instantaneamente parece que o Espírito Santo tomou conta do grande auditório de inimigos de Jesus Cristo, e cerca de quinhentos homens puseram-se de pé, as lágrimas rolando pelas faces e gritando: 'Eu quero! Eu quero!' Clamaram até que todo o ambiente se transformou. A batalha foi ganha.
"O culto terminou sem demora, para que se começasse a obra entre aqueles que estavam desejosos de salvação. Em oito dias, cerca de dois mil foram transferidos das fileiras do inimigo para o exército do Senhor, pela rendição da vontade. Os anos que se seguiram provaram a firmeza da obra, pois os clubes nunca se ergueram. Deus, na sua misericórdia e poder, os aniquilou por seu Evangelho."
Um total de quinhentas mil preciosas almas ganhas para Cristo, é o cálculo da colheita que Deus fez por intermédio de seu humilde servo, Dwight Lyman Moody. R. A. Torrey, que o conheceu intimamente, considerava-o, com razão, o maior homem do século XIX, isto é, o homem mais usado por Deus para ganhar almas.
Não é exagero dizer que, hoje em dia, muitas décadas depois de sua morte, os crentes se referem ao seu nome mais do que a qualquer outro nome depois dos tempos dos apóstolos.
Que ninguém julgue, contudo, que D. L. Moody era grande em si mesmo ou que tinha oportunidades que os demais não têm. Seus antepassados eram apenas lavradores que viveram por sete gerações, ou duzentos anos, no vale do Connecticut, nos Estados Unidos. Dwight nasceu a 5 de fevereiro de 1837, de pais pobres, o sexto entre nove filhos. Quando era ainda pequeno, seu pai faleceu e os credores tomaram conta do que ficou, deixando a família destituída de tudo, até da lenha para aquecer a casa em tempo de intenso frio.
Não há história que comova e inspire tanto quanto a daqueles anos de luta da viúva, mãe de Dwight. Poucos meses depois da morte de seu marido, nasceram-lhe gêmeos e o filho mais velho tinha apenas doze anos. O conselho de todos os parentes foi que ela entregasse os filhos para outros criarem. Mas com invencível coragem e santa dedicação a seus filhos, ela conseguiu filhos no próprio lar. Guarda-se ainda, como tesouro precioso, sua Bíblia com as palavras de Jeremias 49.11 sublinhadas: "Deixa os teus órfãos, eu os conservarei em vida; e confiem em mim tuas viúvas."
- "Pode-se esperar outra coisa a não ser que os filhos ficassem ligados à mãe e que crescessem para se tornarem homens e mulheres que conhecessem o mesmo Deus que ela conhecia?" - Assim se expressou Dwight, ao lado do ataúde quando ela faleceu com a idade de noventa anos: -"Se posso conter-me, quero dizer algumas palavras. É grande honra ser filho de uma mãe como ela. Já viajei muito, mas nunca encontrei alguém como ela. Ligava a si seus filhos de tal maneira que representava um grande sacrifício para qualquer deles afastar-se do lar. Durante o primeiro ano depois que meu pai faleceu, ela adormecia todas as noites chorando. Contudo, estava sempre alegre e animada na presença dos filhos. As saudades serviam para chegá-la mais perto de Deus. Muitas vezes eu me acordava e ela estava orando, às vezes, chorando. Não posso expressar a metade do que desejo dizer. Aquele rosto, como é querido! Durante cinqüenta anos não senti gozo maior do que o gozo de voltar a casa. Quando estava ainda a setenta e cinco quilômetros de distância, já me sentia tão inquieto e desejoso de chegar que me levantava do assento para passear pelo carro até o trem chegar à estação... Se chegava depois de anoitecer, sempre olhava para ver a luz na janela da minha mãe. Senti-me tão feliz esta vez por chegar a tempo de ela ainda me reconhecer! Perguntei-lhe: -'Mãe, me conhece?' Ela respondeu: - 'Ora, se eu te conheço!' Aqui está a sua Bíblia, assim gasta, porque é a Bíblia do lar; tudo que ela tinha de bom veio deste livro e foi dele que nos ensinou. Se minha mãe foi uma bênção para o mundo é porque bebia desta fonte. A luz da viúva brilhou do outeiro durante cinqüenta anos. Que Deus a abençoe, mãe; ainda a amamos! Adeus, por um pouco, mãe!"
Ao contemplar o êxito de Dwight L. Moody, somos constrangidos a acrescentar: - Quem pode calcular as possibilidades de um filho criado num lar onde os pais amam sinceramente ao Pai celestial a ponto de chamar diariamente todos os filhos para escutarem a sua voz na leitura da Bíblia e reverentemente clamarem a Ele em oração? Todos os filhos da viúva Moody assistiam aos cultos nos domingos; levavam merenda para passar o dia inteiro na igreja. Tinham de ouvir dois prolongados sermões e, no intervalo, assistir à Escola Dominical. Dwight, depois de trabalhar a semana inteira, achava que sua mãe exigia demais obrigando-o a assistir aos sermões, os quais não compreendia. Mas, por fim, chegou a ser agradecido a essa boa mãe pela dedicação nesse sentido.
Com a idade de dezessete anos, Moody saiu de casa para trabalhar na cidade de Boston, onde achou emprego na sapataria de um seu tio. Continuou a assistir aos cultos, mas ainda não era salvo.
Notai bem, os que vos dedicais à obra de ganhar almas: não foi num culto que Dwight Moody foi levado ao Salvador. Seu professor da Escola Dominical, Eduardo Kimball, conta:
"Resolvi falar-lhe acerca de Cristo e de sua alma. Vacilei um pouco em entrar na sapataria, não queria embaraçar o moço durante as horas de serviço. Por fim, entrei, resolvido a falar sem mais demora. Achei Moody nos fundos da loja, embrulhando calçados. Aproximei-me logo dele e, colocando a mão sobre seu ombro, fiz o que depois parecia-me um apelo fraco, um convite para aceitar a Cristo. Não me lembro do que eu disse, nem mesmo Moody podia lembrar-se alguns anos depois. Simplesmente falei do amor de Cristo para com ele, e o amor que Cristo esperava dele, de volta. Parecia-me que o moço estava pronto para receber a luz que o iluminou naquele momento e, lá nos fundos da sapataria, entregou-se a Cristo."
Na história dos crentes, através dos séculos, não há crente que fosse, no zelo, menos remisso e, no espírito, mais fervoroso em servir ao Senhor, desde a conversão até o dia da morte, do que Moody de Northfield. Quantas vezes depois, o senhor Kimball dava graças a Deus por não ter sido desobediente à visão celestial; qual teria sido o resultado se não tivesse falado ao moço naquela manhã na sapataria?!Era costume das igrejas daquela época, alugarem os assentos. Moody, logo depois da sua conversão, transbordando de amor para com seu Salvador, pagou aluguel de um banco, percorrendo as ruas, hotéis e casas de pensão solicitando homens e meninos para enchê-lo em todos os cultos. Depois alugou mais um, depois outro, até conseguir encher quatro bancos, todos os Domingos. Mas isso não era suficiente para satisfazer o amor que sentia para com os perdidos. Certo domingo visitou uma Escola Dominical em outra rua. Pediu permissão para ensinar também, uma classe. O dirigente respondeu: "Há doze professores e dezesseis alunos, porém o senhor pode ensinar todos os alunos que conseguir trazer à escola." Foi grande a surpresa de todos quando Moody, no domingo seguinte, entrou com dezoito meninos da rua, sem chapéu, descalços e de roupa suja e esfarrapada, mas, como ele disse: "Todos com uma alma para ser salva." Continuou a levar cada vez mais alunos à Escola até que, alguns domingos depois, no prédio não cabiam mais; então resolveu abrir outra escola em outra parte da cidade. Moody não ensinava, mas arranjava professores, providenciava o pagamento do aluguel e de outras despesas. Em poucos meses essa Escola veio a ser a maior da cidade de Chicago. Não julgando conveniente pagar outros para trabalhar no Domingo, Moody, cedo, pela manhã, tirava as pipas de cerveja (outros ocupavam o prédio durante a semana), varria e preparava tudo para o funcionamento da escola. Depois, então, saía para convidar alunos. Às duas horas, quando voltava de fazer os convites, achava o prédio repleto de alunos.
Depois de findar a escola, ele visitava os ausentes e convidava todos para ouvirem a pregação, à noite. No apelo, após o sermão, todos os interessados eram convidados a ficar para um culto especial, no qual tratavam individualmente com todos. Moody também participava nessa colheita de almas.
Antes de findar o ano, 600 alunos, em média, assistiam à Escola Dominical, divididos em 80 classes. A seguir a assistência subiu a 10000 e, às vezes, a 1500.
O êxito de Moody na Escola Dominical atraiu a atenção de outros que se interessavam pelo mesmo trabalho.De vez em quando era convidado a participar nas grandes convenções das Escolas Dominicais. Certa vez, depois de Moody haver falado numa convenção, um orador censurou-o severamente por não saber dirigir-se a um auditório. Moody foi para a frente, e depois de explicar que reconhecia não ser instruído, agradeceu ao ministro por ter mostrado seus defeitos e pediu-lhe que orasse a Deus para que o ajudasse a fazer o melhor que pudesse.
Ao mesmo tempo que Moody se aplicava à Escola Dominical com tais resultados, esforçava-se, também, no comércio todos os dias. O grande alvo da sua vida era vir a ser um dos principais comerciantes do mundo, um multimilionário. Não tinha mais de 23 anos e já tinha ajuntado 7000 dólares! Mas seu Salvador tinha um plano ainda mais nobre para seu servo.
Certo dia, um dos professores da Escola Dominical entrou na sapataria onde Moody negociava. Informou-o de que estava tuberculoso e que, desenganado pelo médico, resolvera voltar para Nova Iorque e aguardar a morte. Confessou-se muito perturbado, não porque tinha de morrer, mas porque até então não conseguira levar ao Salvador nenhuma das moças da sua classe da Escola Dominical. Moody, profundamente comovido, sugeriu que visitassem juntos as moças em suas casas, uma por uma. Visitaram uma, o professor falou-lhe seriamente acerca da salvação da sua alma. A moça deixou seu espírito leviano e começou a chorar, entregando-se ao seu Salvador. Todas as outras moças que foram visitadas naquele dia fizeram o mesmo.
Passados dez dias, o professor foi novamente à sapataria. Com grande gozo informou a Moody que todas as moças se haviam entregado a Cristo. Resolveram então convidar todas para um culto de oração e despedida na véspera da partida do professor para Nova Iorque. Todos se ajoelharam e Moody, depois de fazer uma oração, estava para se levantar quando uma das moças começou, também, a orar. Todos oraram suplicando a Deus em favor do professor. Ao sair Moody suplicou: "Ó Deus, permite-me morrer antes de perder a bênção que recebi hoje aqui!"Moody, mais tarde, confessou: "Eu não sabia o preço que tinha de pagar, como resultado de haver participado na evangelização individual das moças. Perdi todo jeito de negociar; não tinha mais interesse no comércio. Experimentara um outro mundo e não mais queria ganhar dinheiro... Oh! delícia, a de levar uma alma das trevas deste mundo à gloriosa luz e liberdade do Evangelho!"
Então, não muito depois de casar-se, com a idade de vinte e quatro anos, Moody deixou um bom emprego com o salário de cinco mil dólares por ano, um salário fabuloso naquele tempo, para trabalhar todos os dias no serviço de Cristo, sem ter promessa de receber um único cêntimo. Depois de tomar essa resolução, apressou-se em ir à firma B. F. Jacobs & Cia., onde, muito comovido, anunciou: - "Já resolvi empregar todo o meu tempo no serviço de Deus!" -"Como vai manter-se?" - "Ora, Deus me suprirá de tudo, se Ele quiser que eu continue; e continuarei até ser obrigado a desistir."
É muito interessante notar o que ele escreveu não muito depois, a seu irmão Samuel: "Caro irmão: As horas mais alegres que já experimentei na terra foram as que passei na obra da Escola Dominical. Samuel, arranja uma classe de moços perdidos leva-os à Escola Dominical e pede a Deus sabedoria, e instrui-os no caminho da vida eterna!" Ao mesmo tempo em que Moody descrevia a sua alegria, foi obrigado a deixar a pensão, a alimentar-se mais simplesmente e a dormir num dos bancos do salão.
Acerca de seu desprendimento pelo dinheiro, R. A. Tor-rey fez esta observação: "Ele (Moody) disse-me que, se tivesse aceitado lucros provenientes da venda dos hinários por ele publicados, eles somariam um milhão de dólares. Porém Moody recusou-se a tocar naquele dinheiro, embora por direito fosse seu... Numa certa cidade visitada por Moody nos últimos dias de sua vida, estando eu em sua companhia, foi publicamente anunciado que ele não aceitaria qualquer recompensa por seus serviços. O fato era que ele quase não tinha outros meios de sustento senão aquilo que recebia nas suas conferências, todavia ele não comentou o anúncio feito, mas saiu daquela cidade sem receber um centavo sequer pelo seu árduo trabalho; e, parece-me, que foi ele mesmo quem pagou sua conta no hotel onde se hospedara."
A parte da biografia de D. L. Moody que trata dos primeiros anos do seu ministério está repleta de proezas feitas na carne. Mencionamos aqui apenas uma, isto é, o fato de Moody fazer 200 visitas em um só dia. Ele mesmo mais tarde se referia àqueles anos como uma manifestação do "zelo de Deus, mas sem entendimento", acrescentando: Há, contudo muito mais esperança para o homem com zelo e sem entendimento do que para o homem de entendimento sem zelo."
Rompeu a tremenda Guerra Civil e Moody chegou com os primeiros soldados ao acampamento militar onde armou uma grande tenda para os cultos. Depois ajuntou dinheiro e levantou um templo onde dirigiu 1500 cultos durante a guerra. Uma pessoa que o conhecia assim comentou sua ação: "Moody precisa estar constantemente em todos os lugares, dia e noite, nos domingos e todos os dias da semana; orando, exortando, tratando com os soldados acerca das suas almas, regozijando-se nas oportunidades abundantes de trabalhar no grande fruto ao seu alcance por causa da guerra."
Depois de findar a guerra, dirigiu uma campanha para levantar em Chicago um prédio para os cultos, com capacidade para três mil pessoas. Quando, mais tarde esse edifício foi destruído por um incêndio, ele e dois outros iniciaram outra campanha, antes de os escombros haverem esfriado, para levantar novo edifício. Trata-se do Farwell Hall II, que se tornou um grande centro religioso em Chicago. O segredo desse êxito foram os cultos de oração que se realizavam diariamente, ao meio-dia, precedidos por uma hora de oração de Moody, escondido no vão debaixo da escada.
No meio desses grandes esforços, Moody resolveu, inesperadamente, fazer uma visita à Inglaterra.
Em Londres, antes de tudo, foi ouvir Spurgeon pregar no Metropolitan Tabernacle. Já tinha lido muito do que "o príncipe dos pregadores" escrevera, mas ali pôde verificar que a grande obra não era de Spurgeon, mas de Deus, e saiu de lá com uma outra visão.
Visitou Jorge Müller e o orfanato em Bristol. Desde aquele tempo a Autobiografia de Müller exerceu tanta influência sobre ele como já o tinha feito "O Peregrino", de Bunyan.
Entretanto, nessa viagem, o que levou Moody a buscar definitivamente uma experiência mais profunda com Cristo, foram estas palavras proferidas por um grande ganhador de almas de Dubim, Henrique Varley: "O mundo ainda não viu o que Deus fará com, para, e pelo homem inteiramente a Ele entregue." Moody disse consigo mesmo: "Ele não disse por um grande homem, nem por um sábio, nem por um rico, nem por um eloqüente, nem por um inteligente, mas simplesmente por um homem. Eu sou um homem, e cabe ao homem mesmo resolver se deseja ou não consagrar-se assim. Estou resolvido a fazer todo o possível para ser esse homem." Apesar de tudo isso, Moody, depois de voltar à América, continuava a se esforçar e a empregar métodos naturais. Foi nessa época que a cidade de Chicago foi reduzida a cinzas no pavoroso incêndio de 1871.
Na noite do início do pavoroso incêndio, Moody pregou sobre este tema: - "Que farei, então, de Jesus, chamado Cristo?" Ao concluir seu sermão, ele disse ao auditório, o maior a que pregara em Chicago: "Quero que leveis esse texto para casa e nele mediteis bem durante a semana e no domingo vindouro iremos ao Calvário e à cruz e resolveremos o que faremos de Jesus de Nazaré."
- "Como errei!" disse Moody, depois. - "Não me atrevo mais a conceder uma semana de prazo ao perdido para decidir sobre a salvação. Se se perderem serão capazes de se levantar contra mim no dia do juízo. Lembro-me bem de como Sankey cantou e como sua voz soou quando chegou a estrofe de apelo: "O Salvador chama para o refúgio. Rompe a tempestade e breve vem a morte."
"Nunca mais vi aquele auditório. Ainda hoje desejo chorar... Prefiro ter a mão direita decepada, a conceder ao auditório uma semana para decidir o que fará de Jesus. Muitos me censuram dizendo: - "Moody, o senhor quer que o povo se decida imediatamente. Por que não lhe dá tempo para consultar?"
"Tenho pedido a Deus muitas vezes que me perdoe por ter dito naquela noite que podiam passar oito dias para considerar, e se Ele poupar minha vida não o farei de novo."
O grande incêndio rugiu e ameaçou durante quatro dias; consumindo Farwell Hall, o templo de Moody e a sua própria residência. Os membros da igreja foram todos dispersos. Moody reconheceu que a mão de Deus o castigara para o ensinar, e isso tornou-se para ele motivo de grande regozijo.
Foi a Nova Iorque, a fim de granjear dinheiro para os flagelados do grande sinistro. Acerca do que se passou, ele mesmo escreveu: "Não sentia o desejo no coração de solicitar dinheiro. Todo o tempo eu clamava a Deus pedindo que me enchesse do seu Espírito. Então, certo dia, na cidade de Nova Iorque - Ah! que dia! Não posso descrevê-lo, nem quero falar no assunto; é experiência quase sagrada demais para ser mencionada. O apóstolo Paulo teve uma experiência acerca da qual não falou por catorze anos. Posso apenas dizer que Deus se revelou a mim e tive uma experiência tão grande do seu amor que tive de rogar-lhe que retirasse de mim sua mão. Voltei a pregar. Os sermões não eram diferentes; não apresentei outras verdades; contudo, centenas se converteram. Não quero voltar para viver de novo como vivi outrora nem que eu pudesse possuir o mundo inteiro."
Acerca dessa experiência, um de seus biógrafos acrescentou: "O Moody que andava na rua parecia outro. Nunca jamais bebera mosto, mas então conhecia a diferença entre o júbilo que Deus dá e o falso júbilo de Satanás. Enquanto andava, parecia-lhe que um pé dizia a cada passo, 'Glória!' e o outro respondia, 'Aleluia!'. O pregador rompeu em soluços, balbuciando: 'Ó Deus, constrange-nos andar perto de ti para todo o sempre.'"
Sobre o mesmo acontecimento, ainda outro escreveu o seguinte: "O fruto da sua pregação tinha sido pequeno. Angustiado em espírito, ele andava pelas ruas da grande cidade de noite orando: 'Ó Deus unge-me com teu Espírito!' - Deus ouviu e concedeu-lhe lá mesmo na rua, aquilo por que rogava. Sua vida anterior era como se experimentasse puxar água dum poço que parecia seco. Fazia funcionar a bomba com toda a força, mas tirava muito pouca água. Agora Deus fez sua alma como um poço artesiano onde nunca falta água. Assim chegou a compreender o que significam as palavras: "A água que eu lhe der, virá a ser nele uma fonte de água que mana para a vida eterna."
O Senhor supriu dinheiro para Moody construir um edifício provisório para realizar os cultos em Chicago. Era de madeira rústica, forrado de papel grosso para evitar o frio; o teto era sustentado por fileiras de estacas colocadas no centro. Nesse templo provisório realizaram-se os cultos, durante três anos, no meio dum deserto de cinzas. A maior parte do trabalho de construção fora feita pelos membros que moravam em ranchos ou mesmo em lugares escavados por debaixo das calçadas das ruas. Ao primeiro culto assistiram mais de mil crianças com seus respectivos pais!
Esse templo provisório serviu de morada para Moody e Sankey, seu evangelista-cantor; eram tão pobres como os outros em redor, mas tão cheios de esperança e gozo que conseguiram levar muitos a Cristo e se tornarem ricos, apesar de nada possuírem. Onda após onda de avivamento passou sobre o povo. Os cultos continuavam dia e noite, quase sem cessar, durante alguns meses. Multidões choravam seus pecados, às vezes dias inteiros e no dia seguinte, perdoados, clamavam e louvavam em gratidão a Deus. Homens e mulheres até então desanimados participavam do gozo transbordante de Moody, transformado pelo batismo com o Espírito Santo.
Não muito depois de haver construído o templo permanente (com assentos para 2000 pessoas - e sem endividar-se), Moody fez a sua segunda viagem à Inglaterra. Nos seus primeiros cultos nesse país, encontrou igrejas frias, com pouca assistência e o povo sem interesse nas suas mensagens. Mas a unção do Espírito, que Moody recebera nas ruas de Nova Iorque, ainda permanecia na sua alma e Deus o usou como seu instrumento para um avivamento mundial.
Não desejava métodos sensacionais, mas usou os mesmos métodos humildes até o fim da vida: sermão dirigido direto aos ouvintes; aplicação prática da mensagem do Evangelho à necessidade individual; solos cantados sob a unção do Espírito; apelo para que o perdido se entregasse imediatamente; uma sala no lado aonde levava os que se achavam em "dificuldades" em aceitar a Cristo; a obra que depois os salvos faziam entre os "interessados" e recém-convertidos; diariamente uma hora de oração ao meio-dia, e cultos que duravam dias inteiros.
O próprio Moody disse estas palavras: "Se estamos cheios do Espírito, e de poder, um dia de serviço com poder vale mais do que um ano de serviço sem esse poder." Outra vez acrescentou: "Se estamos cheios do Espírito, ungidos, nossas palavras alcançarão os corações do povo."
Na Inglaterra, as cidades de York, Senderland, Bishop, Auckland, Carlisle e Newcastle foram vivificadas como nos dias de Whitefield e Wesley. Na Escócia, em Edinburgh, os cultos se realizaram no maior edifício e "a cidade inteira ficou comovida." Em Glasgow, a obra começou com uma reunião de professores da Escola Dominical, a que assistiram mais de 3000. O culto de noite foi anunciado para às 6,30, mas muito antes da hora marcada, o grande edifício ficou repleto e a multidão que não pôde entrar foi levada para as quatro igrejas mais próximas. Essa série de cultos transformou radicalmente a vida diária do povo. Na última noite Sankey cantou para 7000 pessoas que estavam dentro do edifício, e Moody, sem poder entrar no auditório, subiu numa carruagem e pregou a 20 mil pessoas que se achavam congregadas do lado de fora. O coral cantou os hinos de cima dum galpão. Em um só culto mais de 2000 pessoas responderam ao apelo para se entregarem definitivamente a Cristo.
Durante o verão, pregou em Aberdeen, Montrose, Brechin, Forfar, Huntley, Inverness, Arbroath, Fairn, Nairn, Elgin, Ferres, Grantown, Keith, Rothesay e Campbel-town; muitos milhares assistiam a todos os cultos.
Na Irlanda, Moody pregou nos maiores centros com os mesmos resultados, como na Inglaterra e Escócia. Os cultos em Belfast continuaram durante quarenta dias. O último culto foi reservado para os recém-convertidos, que só podiam ter ingresso por meio de bilhetes, concedidos gratuitamente. Assistiram 2.300 pessoas. Belfast fora o centro de vários avivamentos, mas todos concordam em que nunca houvera um avivamento antes desse de resultados tão permanentes.
Depois da campanha na Irlanda, Moody e Sankey voltaram à Inglaterra e dirigiram cultos inesquecíveis em Shefield, Manchester, Birgmingham e Liverpool. Durante muitos meses, os maiores edifícios dessas cidades ficaram superlotados de multidões desejosas de ouvirem a apresentação clara e ousada do Evangelho por um homem livre de todo o interesse e ostentação. O poder do Espírito se manifestou em todos os cultos produzindo resultados que permanecem até hoje.
O itinerário de Moody e Sankey na Europa, findou-se após quatro meses de cultos em Londres. Moody pregava alternadamente em quatro centros. Os seguintes algarismos nos servem para compreender algo da grandeza dessa obra durante os quatro meses: Realizaram-se 60 cultos em Agricultural Hall, aos quais um total de 720.000 pessoas assistiram; em Bow Road Hall, 60 cultos, aos quais 600.000 assistiram; em Camberwell Hall, 60 cultos, com a assistência de 480.000; Haymarket Opera House, 60 cultos, 330.000; Vitória Hall, 45 cultos, 400.000 assistentes.
Como é glorioso acrescentar aqui o seguinte: "As diferenças entre as denominações quase desapareceram. Pregadores de todas as igrejas cooperavam numa plataforma comum para a salvação dos perdidos. Abriram-se de novo as bíblias e houve um grande interesse pelo estudo da Palavra de Deus."
Quando Moody saiu dos Estados Unidos em 1873, era conhecido apenas em alguns Estados e tinha fama, apenas como obreiro de Escola Dominical e da Associação Cristã de Moços. Mas quando voltou da campanha na Inglaterra em 1875, era conhecido como o mais famoso pregador do mundo. Contudo continuou o mesmo humilde servo de Deus. Foi assim que uma pessoa que o conhecia intimamente descreveu sua personalidade: "Creio que era a pessoa mais humilde que jamais conheci... Ele não fingia humildade. No íntimo do seu coração rebaixava-se a si mes-mo e superestimava os outros. Ele engrandecia outros homens, e, sempre que possível arranjava para que eles pregassem. Fazia tudo para não aparecer."
Ao chegar novamente aos Estados Unidos, Moody recebeu convites, para pregar, de todas as partes do País. Sua primeira campanha (em Brooklyn) foi um modelo para todas as outras. As denominações cooperavam; alugaram um prédio que comportava 3000 pessoas. O resultado foi uma grande e permanente obra.
Durante um período de vinte anos, ele dirigiu campanhas com grandes resultados nas maiores cidades dos Estados Unidos, Canadá e México. Em diversos lugares as campanhas duraram até seis meses. Em todos os lugares Moody proclamava clara e praticamente a mensagem do Evangelho.
Nas suas campanhas havia ocasiões que eram realmente dramáticas. Em Chicago, o Circo Forepaugh, com uma tenda de lona que tinha assentos para 10.000 pessoas e lugares para outras 10.000 em pé, anunciou representações para dois domingos. Moody alugou a tenda para os cultos de manhã, os donos achando muita graça em tal tentativa. Mas no primeiro culto a tenda ficou repleta. Foram tão poucos os que assistiram às representações do circo à tarde, que os donos resolveram não fazer sessão no segundo domingo. Entretanto, o culto realizou-se sob a lona no segundo domingo, o calor era tanto que dava a impressão de matar a todos, porém 18.000 pessoas ficaram em pé, banhados em suor e esquecidos do calor. No silêncio que reinava durante a pregação de Moody, o poder desceu e centenas foram salvos. Acerca de um desses cultos certo assistente deu estas impressões:
"Nunca jamais me esquecerei de certo sermão que Moody pregou. Foi no Circo de Forepaugh durante a Exposição Mundial. Estavam presentes 17.000 pessoas, de todas as classes e de todas as qualificações. O texto do sermão foi: Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.' Grandiosa era a unção do pregador; parecia que estava em íntimo contacto com todos os corações daquela massa de gente. Moody disse repetidamente: Pois o Filho do homem veio - veio hoje ao Circo Forepaugh - para procurar e salvar o que se perdera.' Escrito e impresso, isso parece um sermão comum, mas as suas palavras, pela santa unção que lhe sobreveio, tornaram-se palavras de espírito e de vida."
Durante a Exposição Mundial, no dia designado em honra de Chicago, todos os teatros da cidade fecharam, porque se esperava que todo o mundo fosse à Exposição a seis quilômetros de distância. Porém Moody alugou o Central Music Hall e R. A. Torrey testificou que a assistência era tão grande, que ele só conseguiu entrar por uma janela dos fundos do prédio. Os cultos de Moody continuaram tão concorridos que a Exposição Mundial teve de deixar de funcionar aos domingos, por falta de assistência.
Henrique Moorehouse, pregador escocês, dá a seguinte opinião acerca dos discursos de Moody:
1) "Crê firmemente que o Evangelho salva os pecadores, quando eles crêem, e confia na história simples do Salvador crucificado e ressuscitado.
2) "Espera a salvação de almas, quando prega, e o resultado é que Deus honra a sua fé.
3) "Prega como se nunca jamais se realizasse outro culto e como se os pecadores nunca mais tivessem oportunidade de ouvir o som do Evangelho. Seus apelos a decisão agora mesmo são comoventes.
4) "Consegue levar os crentes a trabalhar com os interessados depois do sermão. Insiste em que perguntem aos que estão assentados ao lado se são salvos ou não. Tudo na sua obra é muito simples e aconselho os obreiros da seara do Senhor a aprenderem de nosso amado irmão algumas lições preciosas sobre a obra de ganhar almas."
O doutor Dale disse: "Acerca do poder de Moody, acho difícil falar. É tão real e ao mesmo tempo tão diferente do poder dos demais pregadores, que não sei descrevê-lo. Sua realidade é inegável. Um homem que pode cativar o interesse de um auditório de três a seis mil pessoas, por meia hora, de manhã, por quarenta minutos, de novo, ao meio-dia e de um terceiro auditório, de 13 a 15 mil, durante quarenta minutos, à noite, deve ter um poder extraordinário."
Acerca desse poder maravilhoso, Torrey testificou: "Várias vezes tenho ouvido diversas pessoas dizerem que viajaram grandes distâncias para ver e ouvir D. L. Moody, e que ele, de fato, é um maravilhoso pregador. Sim, ele era em verdade um maravilhoso pregador; considerando tudo, o mais maravilhoso que eu jamais ouvi; era grande o privilégio de ouvi-lo pregar, como só ele sabia pregar. Contudo, conhecendo-o intimamente, quero testificar que Moody era maior como intercessor do que como pregador. Enfrentando obstáculos aparentemente invencíveis, ele sabia vencer todas as dificuldades. Sabia, e cria no mais profundo de sua alma, que não havia nada demasiadamente difícil para Deus fazer, e que a oração podia conseguir tudo que Deus pudesse realizar."
Certo dia, na sua grande campanha em Londres, Moody estava pregando num teatro repleto de pessoas da alta sociedade, e entre elas havia um membro da família real. Moody levantou-se e leu Lucas 4.27: "E havia muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu..." Ao chegar à palavra "Eliseu", ele não a podia pronunciar e começou a gaguejar e balbuciar. Começou a ler o versículo de novo, mas de novo não podia passar adiante. Experimentou a terceira vez e falhou pela terceira vez. Então fechou o livro e muito comovido olhou para cima, dizendo: "Ó Deus! use esta língua de gago para proclamar Cristo crucificado a este povo!" Desceu sobre ele o poder de Deus e ele derramou sua alma em tal torrente de palavras que o auditório inteiro ficou como que derretido pelo fogo divino.
Foi durante essa segunda visita às Ilhas Britânicas que fez a sua obra entre os homens das suas célebres universidades, Oxford e Cambridge. É uma história muitas vezes repetida de como ele, sem instrução, mas, com a graça de Deus e diplomacia, venceu a censura e fez entre os intelectuais o que alguns consideram a maior obra da sua vida.
Apesar de Moody não ter instrução acadêmica, reconhecia o grande valor da educação e sempre aconselhava a mocidade a se preparar para manejar bem a Palavra de Deus. Reconhecia a grande vantagem da instrução também para os que pregam no poder do Espírito Santo. Ainda existem três grandes monumentos às suas convicções nesse ponto - as três escolas que ele fundou: O Instituto Bíblico em Chicago, com 38 prédios e 16000 alunos matriculados nas aulas diurnas, noturnas e Cursos por Correspondência; o Northfield Seminário, com 490 alunos, e a Escola do Monte Hermom, com 500 alunos.
Entretanto, ninguém se engane como alguns desses alunos e como diversos crentes entre nós, pensando que o grande poder de Moody era mais intelectual do que espiritual. Nesse ponto ele mesmo falava com ênfase: para maior clareza, citamos o seguinte de seus "Short Talks": "Não conheço coisa mais importante que a América precise do que de homens e mulheres inflamados com o fogo do Céu; nunca encontrei um homem (ou uma mulher) inflamado com o Espírito de Deus que fracassasse. Creio que isso seja mesmo impossível; tais pessoas nunca se sentem desanimadas. Avançam mais e mais e se animam mais e mais. Amados, se não tendes essa iluminação, resolvei adquiri-la, e orai: 'Ó Deus ilumina-me com o teu Espírito Santo!'"
No que R. A. Torrey escreveu aparece o espírito dessas escolas que fundou:
"Moody costumava escrever-me antes de iniciar uma nova campanha, dizendo: Pretendo dar início ao trabalho no lugar tal e em tal dia; peço-lhe que convoque os estudantes para um dia de jejum e oração.' Eu lia essas cartas aos estudantes e lhes dizia: Moody deseja que tenhamos um dia de jejum e oração para pedir, primeiramente, as bênçãos divinas sobre nossas próprias almas e nosso trabalho! Muitas vezes ficávamos ali na sala das aulas até alta noite - ou mesmo até a madrugada - clamando a Deus, porque Moody nos exortava a esperar até que recebêssemos a bênção. Quantos homens e mulheres não tenho eu conhecido, cujas vidas e caracteres foram transformados por aquelas noites de oração, e quantos têm conseguido grandes coisas, em muitas terras, como resultado daquelas horas gastas em súplicas a Deus!
"Até o dia da minha morte não poderei esquecer-me de 8 de julho de 1894. Era o último dia da Assembléia dos Estudantes de Northfield... Às 15 horas reunimo-nos em frente à casa da progenitora de Moody... Havia 456 pessoas em nossa companhia... Depois de andarmos alguns minutos, Moody achou que podíamos parar. Nós nos sentamos nos troncos de árvores caídas, em pedras, ou no chão. Moody então franqueou a palavra, dando licença para qualquer estudante expressar-se. Uns 75 deles, um após outro, levantaram-se, dizendo: 'Eu não pude esperar até às 15 horas, mas tenho estado sozinho com Deus desde o culto de manhã e creio que posso dizer que recebi o batismo com o Espírito Santo.' Ouvindo o testemunho desses jovens, Moody sugeriu o seguinte: 'Moços, por que não podemos ajoelhar-nos aqui, agora, e pedir que Deus manifeste em nós o poder do seu Espírito de um modo especial, como fez aos apóstolos no dia de Pentecoste?' E ali na montanha oramos.
"Na subida, tínhamos notado como se iam acumulando nuvens pesadas; no momento em que começamos a orar, principiou a chuva a cair sobre os grandes pinheiros e sobre nós. Porém houve uma outra qualidade de nuvem que há dez dias estava se acumulando sobre a cidade de Northfield - uma nuvem cheia da misericórdia, da graça e do poder divino, de sorte que naquela hora parecia que nossas orações bombardeavam essas nuvens, fazendo descer sobre nós, em grande poder, a virtude do Espírito Santo.
"Homens e mulheres, eis o de que todos nós carecemos - o batismo com o Espírito Santo!"
Que Moody mesmo era um estudante incansável, vê-se no seguinte:
"Todos os dias da sua vida, até o fim, segundo creio, ele se levantava muito cedo de manhã para meditar na Palavra de Deus. Costumava deixar sua cama às quatro horas da madrugada, mais ou menos, para estudar a Bíblia. Um dia ele me disse: Tara estudar, preciso me levantar antes que as outras pessoas acordem'. Ele se fechava num quarto afastado do resto da família, sozinho com a sua Bíblia e com o seu Deus.
"Pode-se falar em poder, porém, ai do homem que negligenciar o único Livro dado por Deus, que serve de instrumento, por meio do qual Ele dá e exerce seu poder. Um homem pode ler inúmeros livros e assistir a grandes convenções; pode promover reuniões de oração que durem noites inteiras, suplicando o poder do Espírito Santo, mas se tal homem não permanecer em contato íntimo e constante com o único Livro, a Bíblia, não lhe será concedido o poder. Se já tem alguma força não conseguirá mantê-la, senão pelo estudo diário, sério e intenso desse Livro."
Tudo no mundo tem de findar; chegou o tempo também para D. L. Moody findar o seu ministério aqui na terra. Em 16 de novembro de 1899, no meio de sua campanha em Kansas City, com auditórios de 15.000 pessoas, pregou seu último sermão. É provável que soubesse que seria o último: certo é que seu apelo era ungido com poder vindo do Alto e centenas de almas foram ganhas para Cristo.
Para a nação, a sexta-feira, 22 de dezembro de 1899, foi o dia mais curto do ano, mas para D. L. Moody, foi o dia que clareou, foi o começo do dia que nunca findará. Às seis horas da manhã dormiu um ligeiro sono. Então os seus queridos ouviram-no dizer em voz clara: "Se isto é a morte, não há nenhum vale. Isto é glorioso. Entrei pelas portas e vi as crianças! (Dois de seus netos já falecidos). A terra recua; o céu se abre perante mim. Deus está me chamando!" Então virou-se para a sua esposa, a quem ele queria mais do que a todas as pessoas, a não ser Cristo, e disse: "Tu tens sido para mim uma boa esposa."
No singelo culto fúnebre, Torrey, Scofield, Sankey e outros falaram à grande multidão comovida que assistiu. Depois o ataúde foi levado pelos alunos da Escola Bíblica de Monte Hermom a um lugar alto que ficava próximo, chamado "Round Top". Três anos depois, a fiel serva de Deus, Ema Moody, sua esposa, também dormiu em Cristo e foi enterrada ao lado do marido, no mesmo alto, onde permanecerão até o glorioso dia da ressurreição.
Contemplemos de novo, por um momento, a vida extraordinária desse grande ganhador de almas. Quando o jovem Moody chorava sob o poder do alto na pregação do jovem Spurgeon, foi inspirado a exclamar: "Se Deus pode usar Spurgeon, Ele me pode usar também". A biografia de Moody é a história de como ele vivia completamente submisso a Deus, para esse fim. R. A. Torrey disse: "O primeiro fator por cujo motivo Moody foi instrumento tão útil nas mãos de Deus é que ele era um homem inteiramente submisso à vontade divina. Cada grama daquele corpo de 127quilos pertencia ao Senhor; tudo que ele era e tudo que tinha pertencia inteiramente a Deus... Se nós, tu e eu, leitor, queremos ser usados por Deus, temos de nos submeter a Ele absolutamente e sem reservas."
Leitor, resolve agora, com a mesma determinação e pelo auxílio divino: "Se Deus podia usar Dwight Lyman Moody, Ele me pode usar também!"
Que assim seja! Amém!
(estraido do livro hérois da fé)
quarta-feira, 6 de março de 2013
BIOGRAFIAS Pastor Hsi (1836-1896) Amado Líder Chinês
BIOGRAFIAS
Pastor Hsi (1836-1896)
Amado Líder Chinês
Acontecera "o impossível" e toda a população se condoía de tal "tragédia": o senhor Hsi, cidadão respeitado por todos, tornara-se crente! Fazia dois anos que um pregador da "nova religião" pregava na província de Shansi. Enquanto se esperava que enredasse alguns dos mais ignorantes, ninguém imaginava que o senhor Hsi, homem culto, de grande influência entre o povo e destacado adepto de Confúcio, seria o primeiro a ficar "enfeitiçado" pelos "diabos estrangeiros!"
Não havia entre o povo quem odiasse tanto os estrangeiros como o senhor Hsi. Mas, de repente, eis que ele estava ligado em espírito ao missionário. Abandonara todos os ídolos; dizia-se que os queimara! Deixara de adorar as tábuas ancestrais. Não havia mais o cheiro de incenso na sua casa. E o que era ainda mais estranho: o senhor Hsi desistira de fumar ópio!
Os velhos recordavam que Shansi fora uma das províncias mais prósperas da China e contavam como fora introduzido o "fumo estrangeiro", isto é, o ópio. O vício se tornara tão generalizado que todo o povo estava reduzido à maior pobreza. Nem mesmo os mais velhos se recordavam de alguém, habituado a fumar ópio, que, no decorrer dos anos, se libertasse do vício. Contudo, o erudito Hsi abandonara, por completo, seu aparelho de fumar e parecia não sentir a ânsia que sentem os que são privados da droga entorpecente.
O tempo que passara outrora preparando e fumando o ópio, ele agora o empregava nas práticas, para eles estranhas, da nova religião. Dia e noite o recém-convertido se aplicava ao estudo dos "livros dos estrangeiros"; às vezes cantava de uma maneira singular e outras vezes de joelhos e, com os olhos fechados, falava ao "Deus dos estrangeiros", o Deus que ninguém via e que não tinha santuário para localizar-se.
Dia após dia a senhora Hsi notava a grande transformação da vida do marido e começou a abandonar o intenso ódio que sentiu quando ele se converteu. Ao acordar-se de noite, via-o absorto, lendo o precioso Livro dos livros, ou ajoelhado suplicando ao Deus invisível, que sentia estar presente. A persistência do homem em ajuntar todos os membros da família diariamente para os cultos estranhos, foi tal, que ganhou, também, sua esposa para Cristo.
Para o crente Hsi, Satanás era o temível adversário que realmente é, sempre incansável e constantemente espreitando para derrubar e destruir os crentes. Contudo, para ele o poder de Cristo era igualmente real e Hsi saía mais que vencedor em todas as dificuldades. Considerava a oração indispensável e não muito depois de se converter chegou a reconhecer o valor de jejuar para melhor orar.
Foi então que aconteceu a coisa menos esperada: a própria natureza da senhora Hsi parecia mudada. Ao converter-se, tornara-se profundamente alegre e recebia as lições das Escrituras avidamente. O marido esperava que breve ela se tornasse uma verdadeira companheira na obra de ganhar almas. Mas, repentinamente, parecia pairar sobre ela uma nuvem do mal. Apesar de todos os esforços, sentia-se levada, contra a própria vontade, a praticar tudo quanto o Diabo sugerisse. Caía, especialmente na hora de culto doméstico, com ataques violentos de cólera.
O povo então dizia: "O Hsi e sua esposa estão ceifando o que semearam! É, como afirmamos desde o começo, uma doutrina do Diabo e agora a senhora Hsi está possuída de demônios."
Durante algum tempo o inimigo das almas parecia invencível. A senhora Hsi, apesar de todas as orações dos crentes, continuava a definhar, ficando quase sem forças.
Nesta altura, Hsi, confiando no poder de Deus, chamou todos os membros da família para jejuarem e dedicarem-se à oração. Depois de orarem três dias e três noites seguidas, em jejum, Hsi, sentindo-se fraco no físico, mas forte no espírito, pôs as mãos sobre a cabeça da esposa e ordenou, em nome de Jesus, que os espíritos imundos saíssem para nunca mais a atormentarem. A cura da senhora Hsi foi tão notável e completa que houve grande repercussão em toda a cidade. O povo reconhecera o poder dos demônios sobre o corpo e ali, diante dos olhos, estava agora a prova de um poder maior do que o do Diabo.
Mas foi o senhor Hsi, mais que qualquer outra pessoa, que se aproveitou dessa sensacional maravilha. Esforçou-se, desde então, de uma maneira nova, a proclamar o Evangelho e dedicou-se, com crescente fé em Cristo, a orar sob todas as circunstâncias.
Assim, de uma maneira simples e natural, Hsi confiava que o Senhor faria o que prometera em Marcos 16.17,18: "Estes sinais acompanharão aos que crerem: Em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados."
Em resposta à oração desse humilde crente, o Senhor cooperava com ele e confirmava a Palavra com sinais como em Samaria, Lida, e outros lugares nos tempos dos apóstolos. E, como os tempos antigos, homens e mulheres, ao verem o poder de Deus, convertiam-se ao Senhor.
Nunca antes houve alguém para contrariar a Satanás em toda a província de Shansi; portanto não é de admirar que então ele se enfurecesse. Isso também foi como nos tempos antigos.
A perseguição, entretanto, se tornou mais e mais severa até que, por fim, o povo planejou, ao tempo de uma grande festa pagã, passar cordas por cima dos caibros nos templos idólatras e pendurar todos os crentes pelas mãos até que se retratassem e negassem a fé na "religião dos estrangeiros".
Ora, Hsi era tão prático como espiritual e levou o caso ao conhecimento das autoridades. Era novato na fé e não conhecia bem trechos das Escrituras como estes: "Não resistais ao mal" e "Minha é a vingança, eu recompensarei, diz o Senhor". Fez tão grande alvoroço perante o mandarim que este, para se ver livre do homem, mandou soldados para defenderem os crentes.
A perseguição, por isso, fracassou; o povo, assombrado da "religião dos estrangeiros", submeteu-se; e grandes multidões afluíram aos cultos. Contudo, Hsi, com o passar do tempo, sentia-se descontente; os crentes não se desenvolviam como ele esperava. As pequenas igrejas, apesar de todos os seus esforços para alimentá-las, não cresciam e, com qualquer perturbação, grande número de crentes se desviava da fé.
O seguinte, que se encontra entre os seus próprios escritos, mostra como, nesse tempo, viu seu erro e se deu à oração:
"Por causa das investidas de Satanás, dormimos, eu e minha esposa, durante o espaço de três anos, com a roupa que vestíamos de dia, a fim de melhor podermos vigiar e orar. Às vezes, num lugar solitário, passávamos toda a noite orando e o Espírito Santo descia sobre nós... Sempre cuidávamos de pensar, falar e nos comportar de modo a agradar ao Senhor, mas então reconhecíamos como nunca, a nossa fraqueza; que de fato não éramos coisa alguma, e nos esforçávamos para saber a vontade de Deus."
Não há maior prova, talvez, de verdadeira conversão do que a influência sobre o próximo. Depois de Hsi procurar estar mais perto do Senhor, foi eleito chefe pelo povo do vilarejo onde morava, cargo que recusou de início porque não podia participar dos ritos no templo pagão. Mas esse fato foi previsto pelo povo, de modo que insistiram para que aceitasse a magistratura, com a condição de ficar desobrigado de quaisquer solenidades que diziam respeito aos deuses. "É somente ele nos mandar e nós faremos", dizia a multidão. Porém quando Hsi recusou, a não ser que o povo cessasse todas as cerimônias pagãs e fechasse o seu templo, todos voltaram para casa.
Grande foi, pois, a surpresa quando, alguns dias depois, o povo voltou e concordou em fechar o templo. O erudito Hsi era o único entre eles liberto do ópio e capacitado para chefiar o povo.
O fervoroso crente, então, assumiu o cargo, como um serviço a ser feito perante o Senhor; houve boa safra, bom êxito na parte financeira e prevaleceram a paz e o contentamento. Foi reeleito para o segundo ano e para o terceiro. Mas quando reeleito para o quarto ano, recusou o cargo, insistindo em dizer que devia entregar todo o seu tempo na obra de evangelização, obra que aumentara grandemente. Quando o povo o elogiava pela boa maneira como servia a todos, ele respondia, com um sorriso: "Agora os ídolos por certo já morreram de fome e seria mais econômico se os não ressuscitásseis."
Foi uma lição prática e que perdurou por muito tempo.
O grande problema que o Pastor Hsi tinha de enfrentar era o da salvação de um povo dado a fumar ópio. Devia haver um meio para libertar os infelizes escravos do desespero indescritível, porque o Filho de Deus veio com o alvo definido de procurar e salvar os perdidos.
Enquanto o Pastor Hsi orava sobre esse problema, foi dirigido a converter a sua casa em Abrigo e convidou para o ajudar um missionário que tinha um remédio para aliviar a ânsia dos viciados quando privados da droga. No início somente dois dos interessados tinham a coragem de experimentar o tratamento; os outros freqüentavam o Abrigo, dia após dia, para verem o resultado.
Por fim, um dos pacientes, agonizante de corpo e mente, acordou os outros à meia-noite. Em resposta à oração, o Senhor, que é o mesmo ontem, hoje e para sempre, o aliviou imediatamente. O gozo do homem que fora liberto era tanto, que um após outro dos mais interessados solicitaram permissão para começarem o tratamento imediatamente.
Nessa altura faltou-lhes o remédio importado que usavam para diminuir os sofrimentos dos enfermos. Acerca disso, assim escreveu o fervoroso Hsi: "Em oração e jejum permaneci perante o Senhor, rogando que me mostrasse quais os ingredientes necessários e me fortalecesse e ajudasse a preparar as pílulas para aliviar os que sofriam."
Para distrair os pacientes e aproveitar o ensejo, o missionário ensinava-lhes hinos e passagens da Bíblia; realizava cultos duas vezes por dia e fazia os interessados repetir, hora após hora, trechos das Escrituras. Quando lhes faltava outro recurso, recorriam às pílulas preparadas pelo pastor Hsi, as quais faziam o mesmo efeito do remédio importado. Contudo o fiel Hsi não confiava nas pílulas, nem as fabricava sem antes jejuar e orar. Costumava, ao fabricar as pílulas, passar o dia inteiro jejuando. Às vezes, de tarde, estando demasiadamente cansado para continuar de pé, saía para passar alguns minutos perante Deus. "Senhor é a tua obra. Dá-me a tua força", era o seu pedido e sempre voltava renovado como se tivesse comido e descansado.
Um dos segredos do incrível êxito do Pastor Hsi, na obra do Abrigo, era a audácia do seu amor para com os infelicitados cativos do vício do ópio; amor que o levou a persistir e sacrificar tudo por eles. Quando caíam em alguma falta, ou mesmo tramavam para o derrubar, suportava tudo como somente o amor sabe suportar.
Quanto mais o pastor Hsi orava tanto mais Deus aumentava a obra; e quanto mais crescia a obra, tanto mais ele sentia o anelo de orar. Em vez de ficar escravizado pelas inumeráveis obrigações, deliberadamente dedicava horas e mesmo dias, freqüentemente em jejum, para orar perante o Senhor, a fim de saber a sua vontade e receber da sua plenitude.
Certo dia, quando assim orava, o Senhor o impressionou profundamente acerca do povo da cidade de Chao-ch'eng, que vivia e morria sem saber o caminho da salvação. Mas como podia ele abrir outro abrigo em uma cidade da qual não conhecia os costumes? Como podia arranjar tempo? Porém enquanto orava o Senhor lhe disse: "Todo o poder me é dado." Mas como podia ir, sem recursos; não possuía dinheiro suficiente para pagar a passagem até aquela cidade. Continuou a orar e o Senhor continuou a aplainar as dificuldades. "Dinheiro? era de dinheiro que precisava para abrir os corações e ganhar almas? Se o Senhor chamava, não supriria Ele todo o necessário? Os muros de Jericó não caíram rentes ao chão, sem a intervenção de mãos humanas?..."
"Assim, ao findar o ano de 1884, cinco anos depois da sua conversão, o pastor Hsi era o dirigente de uma obra que se estendia de Teng-ts'uen, ao sul de onde morava, até Chao-ch'eng sessenta quilômetros para o norte. Havia então oito abrigos e um bom número de congregações espalhadas entre eles.
Mas o pastor Hsi não podia conter-se. À distância de um dia de viagem ainda mais ao norte, estava a grande cidade do Hoh-chau. Constrangido pelo amor de Deus, suplicava ao Senhor que o usasse para abrir a obra ali. Todos os dias orava insistentemente por Hoh-chau, no culto doméstico. Por fim, a senhora Hsi não mais se conteve e perguntou: "Já oramos durante tanto tempo, será que agora não convém agir?"
"Por certo, se tivéssemos dinheiro?", respondeu seu marido.
No dia seguinte, o pastor Hsi, no culto doméstico, orou como de costume. Ao findar o culto, a esposa, em vez de retirar-se, avançou e colocou um pacotinho sobre a mesa, dizendo: "Acho que o Senhor já respondeu às nossas súplicas."
Admirado e ignorando o que ela queria fazer, com aquele gesto, tomou o pacote da mesa. Continha algo pesado, embrulhado em várias tiras de papel, e dentro do papel um lenço. Ao abrir o lenço, encontrou os objetos mais prezados por uma senhora chinesa: anéis, pulseiras, brincos, grampos de ouro e de prata - objetos que lhe foram presenteados quando se casaram.
Com os olhos cheios de lágrimas, ele olhou para a esposa, notando, pela primeira vez, a diferença na sua aparência, sem os enfeites usados pelas mulheres casadas. Não havia mais aliança no dedo; em vez dos enfeites de prata nos cabelos, viam-se as trancas seguras por fios de barbante!
Quando ele quis recusar a oferta, ela insistia alegremente, dizendo: "Não faz mal. Posso dispensar essas coisas. Hoh-chau deve ter o Evangelho."
O pastor aceitou a oferta de sua esposa, oferta que representava profundo sacrifício, mas era suficiente para abrir o abrigo, que logo se tornou um centro de luz e bênção na grande cidade.
Depois de abrir o trabalho em Hoh-chau, realizou-se uma convenção na qual foram batizados setenta dos novos convertidos. O poder de Deus era tal e a assistência tão grande a essas reuniões que foi necessário realizar os cultos ao ar livre, apesar das grandes chuvas. Isso aconteceu após um grande período de seca, e os crentes não queriam orar ao Senhor que retivesse a chuva.
Certo moço endemoninhado, do Abrigo de Chao-ch'eng, assistiu a essa convenção. Ao cair o poder de Deus sobre os cultos, ele se tornou violento, tentando destruir-se e ferir as pessoas que estavam em redor. Quando o pastor Hsi se aproximou, o moço deixou de gritar e de lutar; os homens que o seguravam, disseram: "Ele está bom! Agora está bom! O espírito já saiu."
O pastor, contudo, não se enganou; pondo as mãos sobre a cabeça do moço, orou com instância, no nome de Jesus. Houve alívio imediato e quando o pastor se retirou o moço parecia completamente liberto.
Certo crente, comovido ao presenciar tudo isso, tirou cinqüenta dólares do bolso e disse ao pastor: "Aceite isso; sei que as despesas da obra são grandes."
O pastor, surpreendido, aceitou o dinheiro, mas ao pensar sobre o caso, sentiu-se turbado; a importância era muito elevada e aceitara-a sem pedir conselho ao Senhor. Retirou-se imediatamente para levar o caso a Deus.
Apenas tinha começado a orar, chegou um crente, apressadamente. O endemoninhado estava mais violento do que nunca, e os homens não podiam segurá-lo.
Ao chegar o pastor à presença do moço, o espírito clamou: "Podes vir, mas não te temo mais. Parecias tão elevado como os céus, mas agora és baixo, vil e insignificante! Não mais tens poder para me domar!"
O Pastor, reconhecendo que perdera a fé e o poder, ao aceitar o dinheiro, dirigiu-se ao crente que lho dera, enquanto o infeliz endemoninhado blasfemava em alta voz. Devolveu toda a importância, explicando como, ao receber o dinheiro, perdera seu contato com Deus.
Depois, com as mãos vazias, mas com o coração cheio de gozo, voltou novamente para onde estava a multidão alvoroçada. O moço continuava furioso; porém o pastor estava em contato com o Mestre. Calmamente, e em nome de Jesus, ordenou ao espírito que se calasse e saísse. O moço, deu um grito, foi lançado ao chão pelo demônio, onde ficou alguns minutos contorcendo-se em dores agonizantes. Então se levantou, com o corpo abatido, mas completamente liberto do espírito maligno.
Certo missionário escreveu o seguinte acerca de Hsi:
"O pastor Hsi era perenemente alegre; servia ao próximo incansavelmente; tratava a todas as pessoas com a maior delicadeza. Nunca se comportou levianamente, nem desperdiçou o tempo em assuntos desnecessários. Ganhar almas era a paixão da sua vida... Era impossível estar com o pastor Hsi sem orar. Seu instinto em tudo era o de olhar para Deus. Muito antes de clarear o dia, ouvia-o, no seu quarto orando e cantando horas a fio. A oração se parecia com a atmosfera em que vivia e ele esperava e recebia de Deus as mais destacadas respostas."
"Lembro-me de que certa vez, quando viajava com ele, hospedamo-nos em uma pequena pensão. Foi procurado por uma mulher que tinha uma criança de colo enferma e que sofria muito. Homens e mulheres em todos os lugares por onde ele passava também o procuravam. Reconheciam que era homem de Deus e que podia socorrê-los. O pastor Hsi imediatamente ficou em pé, cumprimentou a mulher com o filhinho; tomou o mesmo nos braços e orou pedindo a Deus que o curasse. A mulher, grandemente consolada, partiu. Algumas horas depois vi o menino são, correndo e brincando. Tais acontecimentos eram comuns."
"Nunca me esquecerei da convenção realizada em P'ing-vang. Ao aproximarmo-nos do local, durante a noite, ouvi os crentes chorando e orando em voz baixa. Ali estava o querido pastor Hsi juntamente com um grande número de irmãos, todos ajoelhados, clamando ao Senhor e suplicando que salvasse seus parentes e amigos... Acreditavam no poder da oração, e se dedicavam à intercessão..."
"Durante todo o inverno, o pastor Hsi esteve sob o poder do Espírito e transmitia esse poder ao próximo. Quando encontrava um auxiliar passando por alguma prova, jejuava, orava e impunha-lhe as mãos. O resultado era que, geralmente, os auxiliares recebiam o mesmo poder."
"Nesse tempo, também havia grande falta de sujeição à Palavra de Deus. O pastor Hsi, porém, em tudo entregava-se à oração; no decorrer dos anos, tornou-se poderoso em expor as Escrituras".
A força e a resistência que manifestava sob provações físicas e mentais eram extraordinárias; recebia virtude de Deus para realizar a obra divina. Quando já velho, podia andar quarenta e cinco quilômetros de uma vez, e depois de jejuar por dois dias seguidos, podia ainda batizar cinqüenta pessoas sem descansar, e sem interrupção.
Por fim, com a idade de sessenta anos, no meio da lida desta vida, Deus o chamou. Na mesma sala onde, antes da sua conversão fumava ópio, passou alguns meses de cama, sem qualquer sofrimento, apenas com as forças quase completamente esgotadas. Ao fechar os olhos aqui no mundo, na manhã do dia 19 de fevereiro de 1896, para ir estar na presença de seu Senhor, centenas de seus filhos na fé, que o amavam ardentemente, não puderam mais conter-se, rompendo em grande choro e fortes soluços.
Durante a vida aqui entregou tudo ao Senhor. Para ele, não existia coisa demasiado preciosa, que não pudesse usá-la para o seu Jesus. Não havia labor árduo demais, se pudesse ganhar uma alma pela qual seu Salvador morrera. Nunca encontrou "cruz" pesada, se pudesse levá-la por amor de Cristo. Jamais julgou o caminho difícil, tratando-se de seguir as pisadas de seu Mestre.
Assim o fiel pastor Hsi foi promovido para fazer serviço mais alto, mais sublime, para estar em mais íntima ligação com Jesus. A obra pioneira que deixou em Chao-eh'eng, Teng-ts'uen, Hoh-chau, T'ai-yuan, Ping-yang e dezenas de outros lugares, é como pujante fortaleza e como resplandecente farol, dissipando as trevas do paganismo na China. Os abrigos e as igrejas fundados nesses lugares permanecem como imponente monumento à sua memória.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Carlos Spurgeon O príncipe dos pregadores (1834-1892)
Carlos Spurgeon
O príncipe dos pregadores
(1834-1892)
No período da Inquisição, na Espanha, sob o reinado do imperador Carlos V, um número elevadíssimo de crentes foram queimados em praça pública ou enterrados vivos. O filho de Carlos V, Filipe II, em 1567, levou a perseguição aos Países Baixos, declarando que ainda que lhe custasse mil vezes a sua própria vida,limparia todo o seu domínio do "protestantismo". Antes da sua morte gabava-se ter mandado ao carrasco, pelo menos, 18.000 "hereges".
Ao começar esse reinado de terror nos Países Baixos, muitos milhares de crentes fugiram para a Inglaterra. Entre os que escaparam do "Concilio de Sangue", encontrava-se a família Spurgeon.
Na Inglaterra, o povo de Deus, contudo, não estava livre de toda a perseguição "passando a maior parte do tempo sentado, por se achar fraco demais para se deitar". Os bisavôs de Carlos eram crentes fervorosos, criando os filhos na admoestação do Senhor. Seu avô paterno, depois de quase cinqüenta anos de pastorado no mesmo lugar, podia dizer: "Não passei nem uma hora triste com a minha igreja depois que assumi o cargo de pastor!" O pai de Carlos, Tiago Spurgeon, era o amado pastor de Stambourne.
Carlos, quando ainda criança, interessava-se pela leitura de "O Peregrino", pela história dos mártires e por diversas obras de teologia. É impossível calcular a influência dessas obras sobre a sua vida.
Que era precoce nas coisas espirituais, vê-se no seguinte acontecimento: Apesar de criança de apenas cinco anos de idade, sentiu profundamente o cuidado do avô, por causa do procedimento de um dos membros da igreja, chamado "Velho Roads". Certo dia, Carlos, a criança, encontrando Roads em companhia de outros fumando e bebendo cerveja, dirigiu-se a ele, dizendo: "Que fazes aqui, Elias?" O "Velho Roads" arrependido, contou, então, ao seu pastor, como a princípio se irou com a criança, mas por fim ficou quebrantado. Desde aquele dia, o "Velho Roads" andou sempre perto do Salvador.
Quando Carlos era ainda pequeno, foi por Deus convencido do pecado. Durante alguns anos sentia-se uma criatura sem esperança e sem conforto; visitava um lugar de culto após outro, sem conseguir saber como podia livrar-se do pecado. Então, quando tinha quinze anos de idade, aumentou nele o desejo de ser salvo. E aumentou de tal forma, que passou seis meses agonizando em oração. Nesse tempo assistiu a um culto numa igreja; nesse dia, o pregador não fora ao culto, por causa duma grande tempestade de neve. Na falta do pastor, um sapateiro se levantou para pregar às poucas pessoas presentes, e leu este texto: "Olhai para mim e sede salvos, todos os confins da terra" (Isaías 45.22). O sapateiro, inexperiente na arte de pregar, podia apenas repetir a passagem e dizer: "Olhai! Não vos é necessário levantar um pé, nem um dedo. Não vos é necessário estudar no colégio para saber olhar; nem contribuir com mil libras. Olhai para mim, não para vós mesmos. Não há conforto em vós. Olhai para mim, suando grandes gotas de sangue. Olhai para mim, pendurado na cruz. Olhai para mim, morto e sepultado. Olhai para mim, ressuscitado. Olhai para mim, à direita de Deus". Em seguida, fitando os olhos em Carlos, disse: "Moço, tu pareces ser miserável. Serás infeliz na vida e na morte se não obedeceres". Então gritou ainda mais: "Moço, olha para Jesus! Olha agora!" O rapaz olhou e continuou a olhar, até que por fim, um gozo indizível entrou na sua alma.
O recém-salvo, ao contemplar o constante zelo do Maligno, foi tomado pela aspiração de fazer todo o possível para receber o poder divino, para frustrar a obra do inimigo do bem. Spurgeon aproveitava todas as oportunidades para distribuir folhetos. Entregava-se de todo o coração a ensinar na Escola Dominical, onde alcançou, de início, o amor dos alunos e, por intermédio desses a presença dos pais na escola. Com a idade de dezesseis anos começou a pregar. Acerca desse fato ele disse: "Quantas vezes me foi concedido o privilégio de pregar na cozinha duma casa de agricultor, ou num celeiro!"
Alguns meses depois de pregar seu primeiro sermão, foi chamado a pastorear a igreja em Waterbeach. Ao fim de dois anos, essa igreja de quarenta membros, passou a ter cem. O jovem pregador desejava educar-se e o diretor duma escola superior, que estava de visita à cidade, marcou uma hora para tratar com ele acerca desse assunto. A criada, porém, que recebeu Carlos, por descuido, não chamou o professor e este saiu sem saber que o moço o esperava. Depois, Carlos, já na rua, um tanto triste, ouviu uma voz dizer-lhe: "Buscas grandes coisas para ti? Não as busques!" Foi então , ali mesmo que abandonou a idéia de estudar nesse colégio, convencido de que Deus o dirigia para outras coisas. Não se deve concluir, contudo, que Carlos Spurgeon resolveu não se educar. Depois disso, ele aproveitava todos os momentos livres para estudar. Diz-se que alcançou fama de ser um dos homens mais instruídos de seu tempo.
Spurgeon havia pregado em Waterbeach apenas durante dois anos quando foi chamado a pregar na Park Street Chapei, em Londres. O local era inconveniente para os cultos, e o templo, que tinha assentos para mil e duzentos ouvintes, era demasiado grande para os auditórios. Contudo, "havia ali um grupo de fiéis que nunca cessaram de rogar a Deus um glorioso avivamento". Este fato é assim registrado nas palavras do próprio Spurgeon: "No início, eu pregava somente a um punhado de ouvintes. Contudo, não me esqueço da insistência das suas orações. Às vezes parecia que rogavam até verem realmente presente o Anjo do Concerto (Cristo), querendo abençoá-los. Mais que uma vez nos admiramos com a solenidade das orações até alcançarmos quietude, enquanto o poder do Senhor nos sobrevinha... Assim desceu a bênção, a casa se encheu de ouvintes e foram salvas dezenas de almas!"
Sob o ministério desse moço de dezenove anos, a concorrência aumentou em poucos meses a ponto de o prédio não mais comportar as multidões; centenas de ouvintes permaneciam na rua para aproveitar as migalhas que caíam do banquete que havia dentro da casa.
Foi resolvido reformar a New Park Street Chapei e, durante o tempo da obra, realizavam-se os cultos em Exeter Hall, prédio que tinha assentos para quatro mil e quinhentos ouvintes. Aí, em menos que dois meses, os auditórios eram tão grandes, que as ruas, durante os cultos, se tornavam intransitáveis.
Quando voltaram para a Chapei, o problema, em vez de ser resolvido, era maior; três mil pessoas ocupavam o espaço preparado para mil e quinhentas! O dinheiro gasto, que alcançou uma elevada quantia, fora desperdiçado! Tornou-se necessário voltar para o Exeter Hall.
Mas nem o Exeter Hall comportava mais os auditórios e a igreja tomou uma atitude espetacular - alugou o Surrey Music Hall, o prédio mais amplo, imponente e magnífico de Londres, construído para diversões públicas.
As notícias, de que os cultos passaram do Exeter Hall para Surrey Music Hall, eletrificaram toda a cidade de Londres. O culto inaugural foi anunciado para a noite de 19 de outubro de 1856. Na tarde do dia marcado, milhares de pessoas para lá se dirigiram para achar assento. Quando, por fim, o culto começou, o prédio no qual cabiam 12.000 pessoas, estava superlotado e havia mais 10.000 fora que não puderam entrar.
No primeiro culto em Surrey Music Hall, notaram-se vestígios da perseguição que Spurgeon tinha de encarar.Ele estava orando, e depois da leitura das Escrituras, os inimigos da obra de Deus se levantaram, gritando: 'Togo! Fogo!" Apesar de todos os esforços de Spurgeon e de outros crentes, a grande massa de gente alvoroçou-se e movimentou-se em pânico, de tal modo que sete pessoas morreram e vinte e oito ficaram gravemente feridas. Depois que tudo serenou, acharam-se espalhados em toda a parte do prédio, roupas de homens e senhoras; chapéus, mangas de vestidos, sapatos, pernas de calças, mangas e paletós, xales, etc., objetos esses que os milhares de pessoas aflitas deixaram, na luta para escapar do prédio. Spurgeon comportou-se com a maior calma durante todo o tempo da indescritível catástrofe, mas depois passou dias prostrado, sofrendo em conseqüência do tremendo choque.
As notícias sobre as trágicas ocorrências durante o primeiro culto em Surrey Music Hall, em vez de prejudicarem a obra, concorreram para aumentar o interesse pelos cultos. De um dia para outro Spurgeon, o herói do Sul de Londres, tornou-se um vulto de projeção mundial. Aceitou convites para pregar em cidades da Inglaterra, Escócia, Irlanda, Gales, Holanda e França. Pregava ao ar livre e nos maiores edifícios, em média oito a doze vezes por semana.
Nesse tempo, quando ainda moço, revelou como conseguia entender, nas Escrituras, os textos difíceis, isto é, simplesmente pedia a Deus: - "Ó Senhor, mostra-me o sentido deste trecho!" E acrescentou: "É maravilhoso como o texto, duro como a pederneira, emite faíscas quando batido com o aço da oração." Quando mais velho, disse: "Orar acerca das Escrituras, é como pisar uvas no lagar, trilhar trigo na eira, ou extrair ouro do minério."
Acerca da vida familiar, Susana, a esposa de Spurgeon, assim escreveu: "Fazíamos culto doméstico, quer hospedados em um rancho nas serras, quer num suntuoso quarto de hotel na cidade. E a bendita presença de Cristo, que muitos crentes dizem impossível alcançar, era para ele a atmosfera natural; ele vivia e respirava nele (em Deus).
Antes de iniciar a construção do famoso templo em Londres, o Metropolitan Tabernacle, Spurgeon, com alguns dos seus membros, se ajoelharam no terreno entre as pilhas de materiais e rogaram a Deus que não permitisse que trabalhador algum morresse ou ficasse ferido durante a execução das obras de construção. Deus respondeu maravilhosamente, não deixando acontecer qualquer acidente durante o tempo da construção do imponente edifício que media oitenta metros de comprimento, vinte e oito de largura e vinte de altura.
A igreja começou a edificar o tabernáculo com o alvo de liquidar todas as dívidas de materiais e pagar toda a mão-de-obra antes de findar a construção. Como de costume, pediram a Deus que os ajudasse a realizar esse desejo, e tudo foi pago antes do dia da inauguração.
"O Metropolitan Tabernacle foi acabado em março de 1861. Durante os trinta e um anos que se seguiram, uma média de 5.000 pessoas se congregavam ali todos os domingos, pela manhã e à noite. De três em três meses Spurgeon pedia aos que haviam assistido neste período, que se ausentassem. Eles assim faziam, porém, o tabernáculo era superlotado por outras pessoas das massas ainda não alcançadas pela mensagem."
Durante certo período, pregou trezentas vezes em doze meses. O maior auditório, no qual pregou, foi no Crystal Palace, Londres, em 7 de outubro de 1857. O número exato de assistentes era de 23.654. Spurgeon esforçou-se tanto nessa ocasião, e o cansaço foi tal, que após o sermão da noite de quarta-feira, dormiu até a manhã de sexta-feira!
Todavia, não se deve julgar que era somente no púlpito que a sua alma ardia pela salvação dos perdidos. Também se ocupava grandemente no evangelismo individual. Nesse sentido citamos aqui o que certo crente disse a respeito dele: "Tenho visto auditórios de 6.500 pessoas inteiramente levadas pelo fervor de Spurgeon. Mas ao lado de uma criança moribunda, que ele levara a Cristo, achei-a mais sublime do que quando dominava o interesse da multidão".
Parece impossível que tal pregador tivesse tempo para escrever. Entretanto os livros da sua autoria, constituem uma biblioteca de cento e trinta e cinco tomos. Até hoje não há obra mais rica de jóias espirituais do que a de Spurgeon, de sete volumes sobre os Salmos: "A Tesouraria de Davi". Ele publicou tão grande número de seus sermões,que, mesmo lendo um por dia, nem em dez anos o leitor os poderia ler todos. Muitos foram traduzidos em várias línguas e publicados nos jornais do mundo inteiro. Ele mesmo escrevia grande parte da matéria para seu jornal, "A Espada e a Colher", título este sugerido pela história da construção dos muros de Jerusalém no tempo angustioso de Neemias.
Além de pregar constantemente a grandes auditórios e de escrever tantos livros, esforçou-se em vários outros ramos de atividades. Inspirado pelo exemplo de Jorge Müller, fundou e dirigiu o orfanato de Stockwell. Pediam a Deus e recebiam o necessário para levantar prédio após prédio e alimentar centenas de crianças desamparadas.
Reconhecendo a necessidade de instruir os jovens chamados por Deus a proclamar o Evangelho, e, assim, alcançar muito maior número de perdidos, fundou e dirigiu o Colégio dos Pastores, com a mesma fé em Deus que mostrou na obra de cuidar dos órfãos.
Impressionado pela vasta circulação de literatura viciosa, formou uma junta de vendagem de livros evangélicos. Dezenas de vendedores foram sustentados e milhares de discursos feitos, além de muitas toneladas de Escrituras e outros livros vendidos de casa em casa.
Acerca de tão estupendo êxito na vida de Spurgeon, convém notar o seguinte: Nenhum dos seus antepassados alcançou fama. Sua voz podia pregar às maiores multidões, mas outros pregadores sem fama gozavam também da mesma voz. O Príncipe dos Pregadores era, antes de tudo, O Príncipe de Joelhos. Como Saulo de Tarso, entrou no Reino de Deus, também agonizando de joelhos. No caso de Spurgeon, essa angústia durou seis meses. Depois (assim aconteceu com Saulo) a oração fervorosa era um hábito na sua vida. Aqueles que assistiam aos cultos no grande Ta-bernáculo Metropolitano diziam que as orações eram a parte mais sublime dos cultos.
Quando alguém perguntava a Spurgeon a explicação do poder na sua pregação, O Príncipe de Joelhos apontava para a loja que ficava sob o salão do Metropolitan Tabernacle e dizia: "Na sala que está embaixo, há trezentos crentes que sabem orar. Todas as vezes que prego eles se reúnem ali para sustentar-me as mãos, orando e suplicando ininterruptamente. Na sala que está sob os nossos pés é que se encontra a explicação do mistério dessas bênçãos."
Spurgeon costumava dirigir-se aos alunos no Colégio dos Pastores desta forma: "Permanecei na presença de Deus!... Se o vosso fervor esfriar, não podereis orar bem no púlpito... pior com a família... e ainda pior nos estudos, sozinhos. Se a alma se tornar magra, os ouvintes, sem saberem como ou por quê, acharão que vossas orações públicas têm pouco sabor."
Ainda sobre a oração, sua esposa deu este testemunho: "Ele dava muita importância à meia-hora de oração que passava com Deus antes de começar o culto." Certo crente também escreveu a esse respeito: "Sente-se, durante a sua oração pública, que ele é um homem de bastante força para levar nas mãos ungidas as orações duma multidão. Isto é a idéia mais grandiosa, de sacerdote entre Deus e os homens".
Convicto do grande poder da oração, Spurgeon designou o mês de fevereiro, de cada ano, no Grande Tabernáculo, para realizar a convenção anual e fazer súplicas por um avivamento na obra de Deus. Nessas ocasiões, passavam dias inteiros em jejum e oração, oração que se tornava mais e mais fervorosa. Não só sentiam a gloriosa presença do Espírito Santo nesses cultos, mas era-lhes aumentado o poder com frutos abundantes.
Na sua autobiografia, desde o começo do seu ministério em Londres, consta que pessoas gravemente enfermas foram curadas em resposta às suas orações.
A vida de Spurgeon não era vida egoísta e de interesse próprio. Juntamente com sua esposa, fez os maiores sacrifícios para colocar livros espirituais nas mãos de um grande número de pregadores pobres e ambos contribuíam constantemente para o sustento das viúvas e órfãos. Recebiam grandes somas de dinheiro, mas davam tudo para o progresso da obra de Deus.
Não buscava fama nem a honra de fundador de outra denominação, como muitos amigos esperavam. A sua pregação nunca foi feita para sua própria glória, porém tinha como alvo a mensagem da Cruz, para levar os ouvintes a Deus. Considerava seus sermões como se fossem setas e dava todo o seu coração, empregava toda a sua força espiritual em produzir cada um. Pregava confiando no poder do Espírito Santo, empregando o que Deus lhe concedera para "matar" o maior número de ouvintes.
"Carlos Hadon Spurgeon recebia o fogo do Céu, estudando a Bíblia, horas a fio, em comunhão com Deus."
Cristo era o segredo do seu poder. Cristo era o centro de tudo, para ele; sempre e unicamente Cristo.
J. P. Fruit disse: "Quando Spurgeon orava, parecia que Jesus estava em pé ao seu lado."
As suas últimas palavras, no leito de morte, dirigidas à sua esposa, foram: "Oh! querida, tenho desfrutado um tempo mui glorioso com meu Senhor!" Ela, ao ver, por fim, que seu marido passaria para o outro lado, caiu de joelhos e com lágrimas exclamou. "Oh! bendito Senhor Jesus, eu te agradeço o tesouro que me emprestaste no decurso destes anos; agora Senhor, dá-me força e direção durante todo o futuro."
Seis mil pessoas assistiram ao culto de funeral. No caixão estava uma Bíblia aberta, mostrando este texto usado por Deus para convertê-lo: "Olhai para mim, e sede salvos, todos os confins da terra."
O cortejo fúnebre passou entre centenas de milhares de pessoas postadas em pé nas calçadas; os homens descobriam-se à passagem do cortejo e as mulheres choravam.
O túmulo simples do célebre Príncipe dos Pregadores, no cemitério de Norwood, testifica da verdadeira grandeza da sua vida. Ali estão gravadas estas humildes palavras:
Aqui jaz o corpo de
CARLOS HADON SPURGEON
esperando o aparecimento do seu
Senhor e Salvador
JESUS CRISTO
(extraido do livro hérois da fé)
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